FRÁGIL FORTALEZA

FRÁGIL FORTALEZA

 

 

Ultimamente tenho parado para olhar a minha volta e como de costume, procuro perceber em mim essa constante evolução. Ah, gosto de estar sempre em movimento de mudança! Talvez porque, elas não cabem a mim, a ninguém de verdade; mas a possibilidade de não ser amanhã o que hoje penso que sou, já me dá ânimo novo diante das muitas de mim, que ainda terei que conhecer, reconhecer e simplesmente deixar ir. Como numa dança constante de ondas, que vão e vem, a nossa ciranda de vida vai se moldando as coisas que nos permitimos saber de nós. Gosto disso!

Esse desafio diário de parecer novo, sendo eu mesma; em busca de alguém que nem imaginava ser um dia, é fascinante!

Acontece que me dei conta do quanto de tempo a gente perde tentando se encaixar. A gente sempre quer mais. Um pouco mais de beleza, de saúde, conhecimento, realização, dinheiro, amor. Essa busca desenfreada por mais, faz-nos dedicar a estarmos mais tempo nos outros e esquecidos de nós. Não temos tempo para nos dedicarmos a quem de fato devemos conhecer. O Eu, se perde em Egos e confunde as nossas perspectivas, moldadas de saberes duvidosos de querer.

Sabemos o que queremos? Será que sabemos?

Será que essa frenética busca constante não demonstra nossas faltas?

Em todo tempo estando à procura de coisas que me parecem tão fundamentais, senti que essas mudanças me trouxeram dúvidas novas. Não sei mais do que tanto preciso, mas talvez ainda saiba o que não quero.

Ter saído do casulo que me aprisionou, distanciando dessa consciência de quem sou (metamorfose), me fez entender que não é a força que nos molda, é o jeito.

Tive que deixar minha vaidade de coitadismo, rompendo com a zona de conforto, para então enfrentar meus conflitos e dores, até o limite da dor. Da dor que não mata, mas maltrata até te ensinar.

É estranho reconhecer seu pior lado, e ainda assim ter que conviver com tudo isso, procurando soluções para talvez corrigi-lo.

Ser uma mulher responsável, dona de si, consciente da sua força e fragilidade, desenharam em mim um rascunho novo da mulher autossuficiente que aparentemente pareço ser. Mas eu não sou! Acredito que o reconhecimento dessa vulnerabilidade tão humana é o que me fortalece nessa busca.

Falamos de empoderamento como ferramenta de força, escondendo nossa fragilidade, enquanto alimentamos a solidão. Será que não há um meio termo? Será mesmo que é o preço a se pagar?

Será que preciso romper com a minha feminilidade, com as ordens criadas socialmente sobre ser mulher, me tornando rígida, fria, tratando de sentimentos com superficialidade. Entendo que algumas mudanças são de fato necessárias, mas quem foi que falou que mulher bem resolvida precisa viver sozinha? Isso não faz sentido!

Há em mim um fogo constante que me destrói e me reconstrói, reascendo-me das cinzas, sem medo de tentar tantas outras vezes. Insisto! Resisto! Acredito na força transformadora do que posso atingir. Quero sempre mais!

Ser essa representação de mulher que impõe as regras do jogo, rejeita companhia ao primeiro sinal de abalo na sua estrutura firme, também nos cobra caro. As paredes de pedras, feitas com aquelas que me jogaram, as vezes balançam, e deixam cair algumas, expondo brechas que a carência emocional guardada, não deseja mostrar.

De que adianta todo empoderamento, toda essa frágil fortaleza, se acordo e vou dormir ansiando por um amor de verdade? Se toda essa construção de igualdade, me jogou no laço da solidão? Se as vezes as noites, ainda espero por uma mensagem de amor; alguém para ouvir minhas histórias; dividir uma garrafa de vinho. Numa saudade de coisas que essa desconstrução me causou.

Não, não quero voltar atrás. Sei que sou melhor agora.

Às vezes me culpo por não dar certo com ninguém; as vezes acho que é só questão de tempo. Às vezes acho que o tempo não quer passar; as vezes acho que ele corre demais... São incertezas, e talvez loucura?!

Mas sinto que essa mulher agora, não necessita, mas deseja o homem certo. Ou quem sabe um errado mesmo! Quem sabe nem seja um homem? Quem vai saber?!

Que não me imponha regras; não me dê limites. Alguém capaz de elogiar minha roupa sem fazer uma crítica. De me achar linda nos meus piores dias. Capaz de compreender essa desordem moderna de mulher que sou, ou que estou me tornando. Entre regras morais e a liberdade de ser nova. Uma constante morte e renascer, somando peças em instantes até se preencher.

 

Izângela Feitosa








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