ValorIza

Desde que me separei comecei a praticar comigo uma forma de ressignificação dos meus conceitos e mudar a forma de enxergar a vida. Foi nessa ruptura que finalmente eu consegui visibilizar o que me sabotava profundamente, e partir dai comecei também a promover estratégias de mudar esses gatilhos de sabotagem em mim e nas pessoas próximas.

Um dia eu senti a necessidade de dizer a minha filha coisas que eu nunca havia dito diretamente a ela. Nós mães, somos orgulhosas de nossos filhos quase que intermitentemente, mas quase nunca paramos pra dizer a eles o que qualquer ser humano no mundo gostaria de ouvir. Nos dedicamos incansavelmente a correção daquilo que não nos agrada, nos tornamos repetitivas, chatas, implacáveis nas pressões de exigir que aquele ser humano em formação, atinja o mais rápido possível a maturidade, que nós sabemos depender de tempo, esforço, apoio e muita dedicação. Nos tornamos as nossas mães com todos os mesmos erros repetidos e nunca avaliados.

 E foi pensando nessa proposta de ser para a minha filha uma mãe melhor do que a minha (que por sinal é maravilhosa), que eu resolvi tentar algo diferente.

Chamei-a para sentar-se comido, e me coloquei bem a sua frente. Olhei para aquele rosto lindo que Deus fez tão cheio de capricho, peguei as suas mãos, e fiz questão que ela olhasse bem dentro dos meus olhos; comecei a dizer tudo que o meu coração sentia vontade.

-Você sabia que eu lhe admiro muito? Sabe que te acho inteligente, responsável, dedicada, gentil, amorosa... Que te acho incrível?

-Obrigada minha filha, por você ser tão especial. Obrigada por me dá a oportunidade de aprender com você sobre o amor, paciência, generosidade, afeto, amizade, paixão... Obrigada por me colocar num lugar tão especial. Por poder transformar minha vida; por ser o motivo das minhas lutas; por me dar ânimo pra continuar. Por ser tão humana, simples, dedicada, amorosa, humilde. Saiba que eu lhe admiro demais. Sou grata pela sua vida, pela sua saúde, por poder dividir minha vida com você.

-Você não é só linda por fora, sua beleza interior é o que te faz ainda mais bela. Sou orgulhosa de poder assistir as transformações da sua vida. Cada conquista sua é um prêmio pra mim...

E assim continuei por um bom tempo, dizendo tudo que exaltasse todas as qualidades que eu pudesse visibilizar naquela jovem em formação, pois ela tinha 15 anos, quando fiz isso a primeira vez (e continuo fazendo até hoje).

A reação dela foi uma mistura de surpresa e emoção. Ela não conseguiu naquele momento, perceber a importância daquilo tudo, mas acatou calada e muito atenta. Ao final nos abraçamos e eu a abençoei.

Passados uns dias eu a ouço conversar com uma amiga sobre aquele momento. Ela reportava em confissão a amiga a estranheza daquilo tudo, disse-lhes até que parecia meio louco... e enquanto contava a amiga respondeu:

-Você tem noção da beleza disso tudo? quantos filhos passam a vida a espera de um momento assim? Não conheço nenhuma mãe que tenha tido uma atitude igual. Amiga você é privilegiada. Eu gostaria de ter tido uma vez na minha vida um momento como esses.

Foi então que ela percebeu o quanto é raro demonstrar amor nas pequenas coisas. Como é importante celebrar quem somos e como somos. Não só com cobranças. Precisamos de mais afeto diário. ValorIza.

A partir daí, vi minha filha ser mais confiante, mais segura, mais consciente. Capaz de tomar decisões, de perceber nas suas qualidades e avaliar os seus defeitos. Praticando mais a gentileza com ela e com os outros; mais feliz.

Perceba o quanto é importante termos a oportunidade de sermos vistos sem julgamento, na mais profunda verdade. Nossos filhos são pedaços de nós melhorados. Passamos a vida toda cobrando dos outros o que nem sempre somos capazes de nos oferecer, porque fomos podados a  não ver o lado bom das coisas. Enfatizamos demais o que é ruim, mesmo conscientes de que somos mesmo imperfeitos.

Essa é a lição de hoje... buscar a exaltação das qualidades do outro, valorizar, para sermos mentores de homens e mulheres muito melhor do que somos. É isso que eu desejo pra ela, e pra qualquer filho que assim como eu foi educado com medo de sentir, de viver, de sofrer, de ser.

Izângela Feitosa