Não acabou em pizza.

 

Não acabou em pizza.

 

Não sei vocês, mas geralmente quando estou com problemas, assumo comportamentos meio estranhos, autodestrutíveis. (É que eu detesto sofrer por algo que pode ser solucionada com dinheiro).

Me reservo quando isso começa a pesar mais do que deveria, me isolo mesmo, de verdade, é que ao longo dos anos tenho reconhecido em mim também lugares obscuros, que revelam um lado meu que não é muito bom de conviver, principalmente sob a pressão desse senso insuportável de responsabilidade que carrego.

Por muitos e muitos anos, não soube lidar com essa animosidade, algumas pessoas dizem ser até um traço de personalidade inerente aos capricornianos, e olha que sou capricórnio com ausência em capricórnio. De certa forma, nós, capricornianos, possuímos uma fama, diga-se de passagem justa, de serem bem chatos. Me reconheço           nisso, realmente, hoje em dia, não procuro esconder de mim essa verdade, mas crio estratégias de convivências para não atingir com o meu pior, pessoas que estão próximo, que no fundo se preocupam comigo. Algumas dessas pessoas, como meus familiares sabem que esse meu lado, não é interessante de ser visto, por isso não o alimento.

Então, esses dias de pressão mental, muito cobrança interior a que nos últimos tempo estou experimentando, me renderam além de um desequilíbrio emocional, pressão alta. Sem falar que uma mulher que já está no limite da menopausa, conhecendo bem a minha sexualidade, fica estressadíssima com algumas faltas, que não só, contas e dinheiro atrasado, TPM, uma vontade absurda de comer doce, dores nas costas, desconforto nas pernas, a cabeça vibrando de dor, enfim...uma avalanche de coisas, tudo de uma vez. (Mas eu sobrevivo!!).

Em dias assim me bate o desespero parece que só pode ser acalmado com comida. É por essas e outras que estou tão gordinha!! Bate logo a vontade de comer coisas diferentes.

Faziam uns 5 meses que não comia pizza, me bateu uma vontade descontrolada de comer pizza! Pensei: “Não posso, não tenho dinheiro! Lembrei do cartão de crédito, naquele duelo mental entre a razão e a gula. Peguei o cartão e pensei: “O que é um peido pra quem está cagado!?”

Liguei para pizzaria, sem culpa, escolhi meus sabores preferidos e fiquei aguardando o momento de realizar aquele prazer, enquanto mentalmente dito um mantra...  Eu mereço!

Ansiosa, fiquei aguardado. Uma hora depois nessa espera, mando mensagem para pizzaria reclamando a demora, e a atendente muito solicita responde: “Está de saída!”

Fiquei tão feliz que fiz logo campana na porta de casa, na intenção de que o entregador não se perdesse, mas … se perdeu!

Outros 20 minutos depois de espera no portão, mando outra mensagem:

-Olha, já estou chateada com tanta espera, por favor entre em contato com o entregar para que ele diga onde está. Tenho certeza de que se perdeu!

A moça me responde:

-Estou ligando agora!

Mais 20 minutos e chega o entregador. Desce da moto e me perguntou:

-É no cartão?

-É!

Tentei passar o cartão uma vez… negado! Duas vezes… negado! Comecei a pensar: “E agora meu pai, o que vai ser de mim? Não posso ficar na vontade, não é justo com uma pobre criatura estressada”.

          Lembrei que tinha recebido um dinheiro de uma conta de uma pessoa, para entregar a minha irmã, e pensei: “Pago com esse dinheiro e depois reponho!” (Sabendo eu, que previsão para isso acontecer, só em bola de cristal. Mas arrisquei, sem medo de ser feliz, pois renunciar à pizza estava fora de cogitação!)

          Foi quando entrei para pegar o dinheiro que ao voltar percebo o entregador procurando desesperadamente minha pizza no seu isopor. Olhou para mim e disse:

          -Se eu te disser que tua pizza não veio?

          (Nessa hora o brilho da fome desanimou...Que decepção!!)

          -O que?? Não acredito não! Para!! Mais de uma hora de espera?!

          Ligo novamente para a pizzaria, e peço a moça para tomar providências a respeito disso enquanto o entregador sai com as outras pizzas para entregar.

          -Moça, sinceramente, que foi isso?! Cadê a pizza?!

          Com uma voz desconcertada, sem saber muito o que dizer, ela me pediu mil desculpa e prometeu que resolveria.

          Eu, frustradíssima, fico sonhando com a pizza, achando que: - “É muita moleza mesmo!? Nada dá certo!!” - Mas estava fingindo estar tudo bem, porque minha filha já havia dito tanta coisa para não comprar aquela pizza, que parecia uma profecia dita por ela, mas eu não ia desistir.

          O que vocês não sabem é que mesmo o meu lado pessimista, é otimista. Só desisto de uma coisa, quando estou convencida de que todas as maneiras foram tentadas sem sucesso.

          Mais 20 minutos depois… chega o entregador finalmente com a bendita pizza.

          -Pronto senhora! Sua pizza!

          -Finalmente!! Até que enfim! Duas horas de espera. Onde estava mesmo essa pizza?  Por que demoraram tanto?

          -Para falar a verdade alguém ficou com a sua pizza, tivemos que fazer outra e por isso a demora, mas pedimos desculpa.

          - Vou pegar o cartão para passar novamente.

          Entrei em casa pedindo a Deus para aquele cartão passar depois de tanta peleja. (Meu Pai eterno, por favor...só dessa vez, não me faça passar esse constrangimento!)

          -Não!! Deixa para lá! Está pago!! Bom apetite!

          Foi nesse exato momento, que minha deusa interior de enchei de brilho novamente, a alegria se fez viva nos meus olhos, e pensei: “Não acredito, Deus, nesse presente!?” Educadamente agradeci e entrei em casa saltitante, igual a criança que ganha doce em festinha de aniversário! Olhei para minha filha segurando a caixa mágica dos meus sonhos mais urgentes, e disse:

          -Ganhei a pizza! Ganhei a pizza!!!

          Ela olhou para mim e disse: “Mainha cagada!!”

          Moral da história, por mais estressada, cheia de problemas, desconcertada; por mais que as coisas parecem estar caminhando para um resultado ruim, não desista! Acredite no melhor. As coisas podem mudar numa velocidade incontável, certamente há uma energia maior que está sempre te cuidando, mesmo que nas pequenas coisas.

          Não vou mentir, pode parecer besteira, mas fiquei grata. Aquela noite não acabou em pizza, teve um sabor muito melhor, um sabor de cuidado, de confiança, de propósito, de algo que pode não estar ali na mira dos teus olhos, não palpável, mas com certeza cheio de amor.

         

 

Izângela Feitosa