O Tapete
O TAPETE
Acho
interessante como as pessoas possuem uma noção destorcida do que somos, e acho mais interessante ainda, como essa percepção equivocada se torna
ilusão desfeita diante da realidade. É assim que eu entendo quando me perguntam
como eu dou conta de tudo?
A
resposta é...simples: "Eu não dou, não dou mesmo! Ando bem longe de dá!”
Houve
um tempo em que eu realmente acreditei que precisava fazer tudo; acreditava ser
possível atingir o auge da perfeição, vestida na carapuça da Mulher Maravilha,
que não percebe o quanto é desgastante essa máxima atribuída as mulheres,
reverenciada como poder, louvada como guerreira. Não, não é bem assim!
O
problema é que quando aceitamos esse rótulo, estamos sobrecarregando a nossa
vida em papéis de peso muitas vezes para preservar, proteger, ou poupar outros
de assumirem suas responsabilidades. Isso acontece nas áreas familiares, nas relações
afetivas e também nas relações de trabalho. Ser vista como poderosa, agrega valor, mas também nos blinda da intenção do acolhimento, porque ninguém cuida de quem
sempre cuida. Demonstrar fragilidades nem sempre é bem-vista; aí todo aquele enredo
criado por você durante uma vida inteira, se desmonta diante das lágrimas de
quem nunca soube chorar. Acredite, isso não é legal!
Não
é justo viver o tempo todo se deixando para depois. Chega uma hora que a mente
suplica por um pouco de paz, anseia por calmaria, que um simples aconchego de um
colo amigo pode resolver. Vivemos turbilhões de emoções diárias em silêncio,
dialogando insistentemente com o íntimo.
Descobri
depois de ter surtado, de tanta sobrecarga emocional, me negando ao próprio acolhimento,
que não preciso dá conta de nada sozinha. Nem levar nas costas o peso das
responsabilidades alheias; tão pouco devo sufocar meus sentimentos com medo do
que vem achar de mim... Que se dane a opinião de quem não sente nos pés as
pedras em que piso. Aprendi! Sofri,
sofri muito, tentando me encaixar, e só me dei conta da minha liberdade, quando
entendi que não sou a peça desse quebra-cabeça, que exige de mim a perfeição. Sou
feita de erros, tentando aceitar! Mas sem nenhuma obrigação de fazer isso a
qualquer custo. Seleciono prioridades, foco no que dá, varro o resto para
debaixo do tapete e se for possível, realizo. Se não...bola pra frente! Sem me
culpar.
Quando
tudo sai errado eu me chateio, fico triste, me dou o direito de chorar; quem me conhece de perto sabe que mexe mesmo comigo essa sensação
de frustração; mas no dia seguinte, depois de ter devidamente digerido tudo, (ou
quase tudo) levanto a beiradinha do tapete, retiro mais umas coisas, escondo outra,
e faço uma limpeza interessante, jogando fora o que não posso mais modificar.
Aliás,
tem dias que entulho tanta coisa lá́ debaixo, que derruba o que tiver em cima;
finjo que não estou vendo, brigo com o mundo, choro mais um pouquinho, me sinto
a mais desequilibrada das mulheres, espero pelo dia seguinte, revejo as
possibilidades, escuto quem pode me auxiliar. Porque se você prestar atenção
sempre tem alguém para te auxiliar com amor. Às vezes não dizendo o que você
deseja ouvir, mas com certeza pensando no seu melhor.
Há manhãs em que acordo cheia de amor-próprio, o espelho parece que me cativar. Promovo todos aqueles mantras: Sou linda!
Maravilhosa! Gostosa! Me sinto mesmo uma deusa. Dou risada, debocho das minhas
naturalidades; faço piada da minha trajetória de sobrecarga, brinco com as adversidades,
repleta de energia positiva, ignoro o tapete já́ pau a pau com o Monte Everest,
e vou bela e formosa (cansada e de piranha no cabelo) tomar um banho demorado,
curtindo o meu corpo calmamente.
Algumas
tardes viro a revolucionária do tapete...quero a todo custo resolver tudo, a
tempo e hora, sem titubear. Como se fosse possível ser mesmo dona das nossas
vidas; traçando um plano capaz de ser cumprido à risca. Brota no corpo uma
energia que se sabe lá́ de onde veio (provavelmente das coisas que como, e que
não deveria comer tanto), e lá́ vou eu, disposta a colocar tudo em dia...
Às vezes acho que até consigo. Mas fico no
quase. Esse quase! É assim. Frustrante, alegre, desesperador, feliz. Um eterno
varre, esconde, esvazia, chora, se convence, aprende, se preocupa, recomeça e
foda-se!!
Não
se deixe enganar, tem sempre um tapete esperando por uma boa faxina emocional
na sala da sua mente, que você insistentemente deseja limpar por completo; sumir
com toda a sujeira ali reservada como se fosse um apelo ao seu fracasso. Se não
tiver, a gente enlouquece.
Por
trás destas imagens de autossuficiência, a Mulher Maravilha, também tem suas
fragilidades, correntes mentais bem fortes, escondendo uma mulher comum, de
carne, osso, querendo emagrecer no mínimo 8kgs. Sempre!!!
O
denominador comum, é o amor, que quando colocado na balança quebra o ponteiro,
vira o jogo, não dá́ nem chance. O amor-próprio, que te liberta da necessidade
da perfeição, da cobrança de dar conta de tudo. O coração é invadido por gratidão,
de ser simplesmente você! Com lágrimas nos olhos agradecemos por tudo, até́
mesmo pelo tapete, sujo, surrado, velho. Até que um dia você percebe que sua sala
metal não precisa mais dele, que aquilo não orna mais com quem você se tornou. Perdeu
a serventia. Que manter a sala sem ele é muito mais prático e bonito; que andar
descalço e sentir o chão sob os pés também tem sua beleza. A beleza de não
precisar enfeitar nada escondendo a sua sujeira, expondo a todos a imagem irreal.
A beleza de poder descansar, sob a paz de não sofrer mais por assumir-se real.
Izangela
Feitosa
Show! 👏👏👏👏
ResponderExcluirUm super texto que nos traz muitas reflexões do ser mulher e suas inúmeras atitudes atitudes, pensamentos e julgamentos.