A ILUSÃO DO COELHO BRANCO
A ILUSÃO DO COELHO BRANCO
Não
sei se já aconteceu com vocês, mas sabe quando se amadurece intimamente um
processo de cura transformador, e de repente você sente vergonha de não ter
encontrado aquela resposta em outro momento? Porque ela sempre esteve ali, ao
alcance dos seus olhos, clara como o dia.
A nossa mente é mesmo um campo superestimado
de potência. É maravilhoso se dar conta das muitas perspectivas que podemos desempenhar
em nós, quando nos permitimos. Não digo
que seja fácil, mas de toda forma o caminho é simples.
O caminho
do amor-próprio por exemplo, parece simples, mas por mais que nos deparemos com
conceitos e fórmulas diárias desse encontro, ainda é um encontro pessoal, que
só acontecerá a partir de nossas próprias autoavaliações. Indispensável ao
querer, se colocar em primeiro não é lá tarefa fácil quando se está “acostumado”
a se deixar para depois. Há anos tenho ansiado por esse reencontro, a passos
lentos e pouco despretensioso, pois acredito que até agora não tivesse
entendido as razões reais. Fala-se muito em amor e reciprocidade, em se
oferecer tal propósito, mas como realmente? Vou te contar quando minha ficha
caiu.
Todo mundo
conhece a história da fábula de Alice no País das Maravilhas. Todos já
assistiram, leram e se encantaram com suas muitas lições cheias de mensagens
subliminares; mas gostaria de destacar aqui uma em particular.
Alice é
uma menina sonhadora, cheia de medos e inseguranças, como a maioria das pessoas
comuns, ela entra pelo espelho numa viagem misteriosa, onde se confronta com os
muitos EUS dentro dela. Sugestivo ou não, o espelho é a forma mais autêntica de
nos percebermos em forma, concretos; mas esse mergulho de intimidade manifesta
a busca por esse autoamor.
Quando
encontra o coelho branco, lindo, ela se encanta à primeira vista, com as
habilidades daquele ser diferente e tão capaz. Uma mistura de realidade e fantasia,
um modelo único de ideal perfeito. Alice o deseja ter, por assim desejá-lo se
convence o amar. Ela insiste em se moldar aos desejos dele, sem ao menos saber
de suas intenções; busca atenção, cuidado e o sufoca, na perseguição de
simplesmente se validar. (Percebeu as semelhanças relacionais?). Ele então foge
dela.
Nessa busca
desenfreada de prendê-lo, atravessa todos os devaneios e obstáculos capazes de transformá-la
em uma nova pessoa. Sem se dar conta de todo esse processo. Na cabeça de Alice
ela apenas quer ser amada, e talvez correspondendo aos modelos de sua
imaginação complexa, enfrentando rainhas, a loucura, dragões e se deparando com
o medo se mudar, ou de ser quem é, finalmente seja amada. (Muito louco tudo
isso!)
Não tanto
obstante, só conseguimos amar aquilo que de fato existe. Será que Alice existia?
Ou será que o Coelho é real? Ou apenas se trata de um profundo estágio de esclarecimento?
Em um
certo momento dessa busca, cansada de correr atrás do coelho, Alice então o
pergunta: “Você me ama?”. E então escuta sua resposta: “Evitarei amar-te até
aprenderes a amar-te a ti mesma!”
Em choque
decepção, ela se avalia e automaticamente se julga incapaz de ser amada. Todo processo
de busca que antes a convencia ao amor-próprio, foi destruído, com uma única frase.
Ele então a questiona:
“Não vês?
Que com uma simples verdade se desmonta em tuas imperfeições, como se fossem
essas as razões que a fazem não ser amada! Quando na verdade é exatamente o contrário.
Sendo tu exatamente quem és, consciente de toda tua vulnerabilidade é que
ampara as razões do amor. Nem sempre serás amada por tais defeitos; haverão
dias em que os outros estarão cansados e aborrecidos, e não terão tempo sequer
de perceber-te, mas ainda assim serás tu, exatamente como és. Mas se não
cultivares em ti tal amor sustentável, como suportará os dias difíceis? Se não recobrires
teu coração de um amor maior, que só poderá ser visto aos teus olhos, todo dissabor
alheio torna-se letal!”
Percebe
o poder desse entendimento?
Foi como
ligar uma chave, e foi impossível não me notar tão frágil. Quanta vergonha de
não ter podido encontrar tais respostas tão obvias aqui dentro de mim.
Quanto
tempo perdido em migalhas de amor alheios? Quanto tempo perdido em maus amores?
Quanto mais se corre atrás do coelho branco, mais distante de pegá-lo! Quando mais
livre da validação dos outros mais amor cultivado aqui dentro de mim.
O coelho
é a metáfora daquilo que precisamos encontrar perdido dentro de nós, que
buscamos a todo custo em outros. Essa grande beleza pura, que só a unidade do
nossos eus, pode compreender. Nos ferimos mais nas expectativas que criamos, do
que com a realidade concreta.
Também
não quero dizer que não devo amar, mas isso muda o jeito com que amamos. Eu te
amo por ser você exatamente quem é, assim como me amo a essa mesma maneira. “AMAR
TEU PROXIMO, COMO A TI MESMO!”
Quando
Alice volta dessa viajem mágica, ela já não é mais a mesma. O mergulho profundo
no seu próprio mar de verdade, é a porta que o espelho mostrou ser capaz de
transformar.
Espero
que vocês tenham entendido a lição. Em mim foi um divisor de águas, porque não
dizer, um mergulho no meu espelho. Tantos coelhos brancos já corri atrás, em
busca do amor, na pressa de ser amada, quando na verdade a razão do amor sempre
esteve aqui, guardada dentro de mim.
Izangela
Feitosa
Texto verdadeiro e que passa uma lição de vida.
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