TÔ PUTA
TÔ PUTA
Pois é, hoje eu tô puta, e não
é do jeito que eu gostaria de estar. Tô puta no sentido mais rebelde da
expressão. Pois é, não é todo dia que eu acordo com o ânimo de fazer revolução
através de lógicas positivas, também tenho meus dias de luta, sem muita glória
sabe?
Como é cansativo lutar
mentalmente por essa resignação de bondade, o mantra da boa energia, ressoando
os famigerados exercícios de GRATIDÃO.
Porra...hoje não! Hoje eu
quero gritar, rasgar a voz contra essa condição educada de parecer sempre
perfeição. Não, hoje não! Vou chutar o balde, colocar o pé na mesa e mostrar
quem é que manda.
Tô puta, com esse governo, com
essa pandemia, com tantas doenças, com as perdas, com a condição econômica, com
as dívidas, com as renúncias que estou sendo obrigada a fazer para sobreviver. Com
a reclusão que me foi imposta, também por essa condição. E não tem nada de
heroico nisso. Estou muito chateada com a falta de respeito das pessoas, dos
responsáveis por esse país, e até com as minhas próprias faltas.
Não, hoje eu não estou a fim
de ficar de meiguice, de autoajuda, e nem de autocritica fofolete, fingindo que
acredito de verdade nessa tal lei da atração. “Lança para o universo que ele
devolve”.
Ah, não! Não vem que essa hoje
não. Não, comungo, nesse instante, especificamente, desses sentimentos, dessas meias
verdades super evolutivas, que não estão dando certo. Cai no meu conceito de
firmeza astral e desalinhei todos os meus chacras, agora.
Penso, reflito, remodelo as
minhas intenções, até aceito as novas propostas. Remodelo planos, escuto
conselhos, penso em como eu posso ser melhor, procuro de várias formas de me
doar, acolher, amar... e o que eu ganho? Um tapão na cara, da vida!
Não gosto de coisas difíceis. Não vejo nada de vantajoso em
ser autopunitivo. Não concordo em romantizar as dificuldades para reconhecer
seus valores. Já entendi que a vida é dura, que o sol nasce para todos, mas a
sombra é para quem planta a maior árvore.
As vezes acho que confundi minhas sementes. O que foi mesmo
que já plantei?
Não venha me dizer: “Ah seja
boazinha, e você ganha um pedacinho no céu”. Quer saber, hoje não sei se o céu
seria um lugar legal para mim não. O céu
que eu imagino é bem distante do que eu vejo como promessa por aí, cheio de
restrições e preconceitos; evoluir, aprender, melhorar, todo mundo fala, mas
fazer que é bom, está difícil!
Porque é tão mais fácil
estender a mão a um desconhecido, e não perceber a dor de quem está tão perto?
Para que serve essa benevolência,
hipócrita? O que se ganha de fato com tudo isso? Não tenho mais tanta certeza
de que esse plantio trará boa colheita. Já não sei bem o que se plantou.
Eu estou muito chateada com os
meus desgastes. Não aguento mais chorar. Minha cabeça não suporta mais os
tantos surtos que já tive que enfrentar. Chega uma hora que explode. Não aceito
mais essa ideia de romantizar as minhas lutas. Estou cansada, perdida, fingindo
sanidade, gorda, adquirindo doenças e querendo acordar desse pesadelo que se
tornou viver, nos últimos anos. Tenho necessidades, vontades, desejos, tantos...
e, no entanto, estou aqui presa, impedida de realizar todas essas coisas.
Assumo minhas culpas, errei em
muitos momentos. O que eu estou fazendo para mudar isso? Às vezes eu acho que
faço tudo errado. TUDO!! O tempo está passando, passando e o que eu tenho feito
pela minha felicidade? Será que ainda reconheço o que é ser feliz? Ah... eu
sei! E é também por isso que nesse momento, estou muito puta!!
Tenho direito de me sentir
assim. Estou carente, sozinha, envelhecendo e estagnada. Com medo...
Tô muito puta! Eu queria um
amor, dinheiro, viver, viver, viver... cansei de só sonhar. Pior é saber que
essa decisão também é minha. Que porra!
Onde foi que eu errei? Eu me
esforço, estudo, leio, escuto, aceito as recomendações, e o que eu quero é tão
pouco. É o mínimo. Será que é esse mesmo pouco que me ofereço, que não faz
sentido?
Eu não quero mais ter que
seguir protocolos de como me comportar. Ah, mas se você agir assim, você se dá bem,
caso contrário. Que saco ter que fingir o tempo todo um personagem, para poder
caber, pra poder seguir, pra sobreviver, num jogo de cintura incansável.
O que eu faço com a minha
autenticidade? Com a minha essência? Com todas as minhas qualidades únicas?
Será que para agradar eu
preciso mesmo desaparecer? Seguir cada receita feita, como se fosse mesmo
possível achar a chave da felicidade numa fórmula universal? Não acredito
nisso!
Eu nasci para ser feliz, e não
para passar vontade. Eu quero e quero muito mais. E só por hoje estou puta por
ficar puta, e não há como não está. É muita pressão. Viver não é só revidar, há
de ter um jeito de chegar a algum lugar suave, sem tanto sofrimento. Não
acredito que nasci para isso. Estou puta, mas vou agradecer, inclusive por estar
puta. GRATIDÃO!
Izangela Feitosa
Urrrrra.
ResponderExcluirVc realmente está PUUUTA.
RELAXA, MESMO DIANTE DO CAOS.
- tudo é verdade , me identifiquei a partir de hoje, todo mundo tem seu momento de às vezes está p***, nada mais que isso , eu amei o texto!
ResponderExcluirEu tbem.
ResponderExcluirEstou de saco isso que nso passa ...
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