NUNCA MAIS PAIXÃO

Nunca mais paixão.

Eu rezo todas as noites para nunca mais me apaixonar!

Pode parecer discurso de alguém revoltado, desiludido, amargurado, sem esperança; e pode até ser verdade tudo isso, mas é que eu não pretendo mais perder essa sanidade consciente que só depois de muito “apanhar da vida” eu encontrei. Não quero perder essa racionalidade de poder olhar as coisas e enxergar exatamente como eles são. Não quero mais me machucar.

Esses dias encontrei um vídeo antigo onde o cantor Ney Mato Grosso, afirma categoricamente não querer nunca mais se apaixonar. Ele diz em suas palavras que se apaixonou ao longo da vida apenas três vezes, e que foram grandes paixões, avassaladoras. Diz também que não gosta desse sentimento de perda da razão, que paixão o deixa desorientado, volúvel, inseguro. Que paixão revela a sua pior face, e esse descontrole faz aflorar todos os defeitos que conscientemente evitamos mostrar.

Sei que a paixão sendo fogo que consome rápido, pode me aguardar num descuido e agarrar-me com todo ímpeto que é típico, e que contra isso talvez não aja alternativas, mas todas as vezes que me recordo da banalidade com que me tratei diante desses sentimentos, resisto-o sentir. Reconheço a total força destrutiva que ele me causou, e entre prós e contra, se a vida me oportunizar escolher, prefiro a frieza desse coração vazio que hoje me acompanha.

A paixão não se enamora de mim; não nos relacionamos de um jeito muito amigável. Tanto que pensar naqueles por quem já fui apaixonada agora me causa repulsa, ânsia, não me abre o apetite, muito pelo contrário, me enoja as vezes.

Pode até ser que todas essas sensações tenham explicações inconsciente, e que solicitem de mim um mínimo de atenção psicológica, que eu não descarto; mas eu revido ao sabor desse devaneio alucinante totalmente desnecessário a minha condição de vida atual. Não me parece satisfatório a condenação da minha liberdade, da minha opinião, nem do meu jeito próprio de querer as coisas, mesmo não podendo dominá-los; não acho justo comigo mais uma vez, me arriscar ao sofrimento já superado de tantas rejeições.

Parece um tanto egoísta, fatalista, dramático, sei lá...pode até ser, mas não! Estou recusando mesmo, por favor!

A paixão nunca me fez bem. Da última vez ela me presenteou com uma modalidade de fracasso que eu realmente nem acredito que me deixei levar por isso. Um coração quebrado já acostumado a se remendar, não estranha tanto estilhaços, mas dessa vez foi crucial. Além de me quebrar interiormente, atingiu outras áreas da minha vida, deixando um estrago sem precedentes... me arrasou de um jeito que é bem difícil superar.

Reconheço os meus infinitos erros, em todas as minhas relações, estou consciente do que poderia ter evitado, e ainda assim celebro a minha coragem de pela primeira vez conseguir dar um basta usando do único e fundamental motivo possível: A MINHA FELICIDADE!!

Mas como assim a paixão não te fez feliz?! Não. Pessoas erradas, razões erradas e sentimentos forjados e manipulados, não fazem ninguém feliz. A paixão da minha parte não sabe escolher, cultiva valores sem avaliação, e fracassa no erro da projeção de amar sem haver amor.

Paixões não se sustentam depois de cair na real, não sobrevivem de fato a realidade da descoberta de quem somos de verdade. Porque a paixão anseia pela fantasia, flerta com a superficialidade e cria expectativas infundadas em sentimentos rasos criados apenas na mente de quem está apaixonado. E isso pode não ser, aliás quase nunca é, como imaginamos.

A paixão romântica que assistimos nos filmes, capaz de mover céus e terras em busca de um final feliz, só existe nesses enredos adolescentes e superestimados, mal condutores de propostas egoístas. A paixão na real é doença, um emaranhado de apegos insustentáveis, posse, envenenada de ciúmes, um complexo de sentimentos de autodestruição afetiva. Não a desejo mais, nunca mais!

Não me sinto disponível a um sentimento tão complexo e potencialmente capaz de me desestruturar emocionalmente. No campo das paixões atuais, eu prefiro apaixonar-me por ações, projetos, propósitos. Dedicar essa energia a algo mais produtivo, apaixonar-se por mim, é minha maior aspiração, e nesse desenho de paixão sim, perder-me inteiramente.

 

Izangela Feitosa



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