PROPOSTA INDECENTE

 PROPOSTA INDECENTE 

Compartilhei um meme em minhas redes sociais, que dizia o seguinte: “O mundo está acabando, transem!”  

É uma forma irônica de lidar com a realidade, uma vez que nos últimos anos temos enfrentado um turbilhão de acontecimentos apocalípticos, e que nossas perspectivas de futuro acabam por ser apenas um lapso fragilizado de esperança; a verdade é que nos damos conta de que não temos poder sobre nada, mas ainda... podemos transar.

És que recebo várias respostas, via mensagem comentando o tal meme. Muitas também em tons bem irônicas e engraçados. (As pessoas adoram fazer comentários de cunho sexual, muito mais do que se procura compreender a sexualidade).  

Respondo, também em tom de deboche, que só dou bons conselhos, e que transar na verdade é uma forma de amenizar um pouco o peso diário das nossas preocupações, afinal de contas uma boa transa tem seu valor.  

Entre uma resposta e outra, percebo uma bem peculiar. Uma proposta indecente na verdade, porque não dizer um assédio, me convidando a praticar o que indiquei. Comumente recebo esse tipo de proposta, pois sendo uma mulher solteira, livre e dona da minha vida, é normal cantadas aparecerem através das redes sociais, inclusive de homens de vários lugares do país e do mundo, e até de algumas mulheres. Tudo poderia ser até naturalizado, não fosse o fato dele ser casado.

Não queria entrar nesse mérito, até porque não condeno as escolhas que se fazem dentro de contexto do que se entende por liberdade, não cabe a mim fazer aqui julgamentos, nem me fazer de santa, o caso não é esse. O que vem a ser questionado é o que veio depois.

Logo que o respondi, não aceitando o “tal convite”, recebo de volta a alegação:

“Ninguém vai saber! Fica no sigilo. Você acha que sou esse tipo de homem que sai por aí comentando o que faço?”

Revidei! Porque o que está em questão não é o que se faz escondido, é como eu me sinto dentro desse contexto. Imediatamente respondi: “Eu vou saber!”

“Não se trata de uma simples transa só... um momento sem interesse, mas no que esse momento vai me beneficiar! Não existe um interesse, não estou disponível em uma prateleira, esperando alguém me pegar. As coisas não funcionam bem assim.”

Ele então continuou:

“Você sabe que sempre tive interesse em você! Acha que não sou de confiança? Que vou sair por aí comentando? Assim você me ofende!”

(Como se eu não soubesse, que para um homem fazer e não contar, é o mesmo que não fazer!)

Foi aí que eu dei um sorrisinho reprovador, diante da tela do celular, enquanto digitava minha resposta:

“Ora que ofensa!! O que me espanta é alguém, que não possui intimidade comigo, se achar à vontade, no direito, de me assediar com um convite dessa natureza, consciente de sua condição marital, e se sentir ofendido quando questionado da minha integridade?! Não é interessante?! Esse tipo de inversão de valores?”

O cara se sente totalmente livre para propor trair sua esposa, como se isso fosse algo legitimado, e ainda se sente ofendido por não ser correspondido de sua oferta!? Como se eu tivesse a obrigação de corresponder. É mole? Como assim???

Vocês percebem como é cruel a posição de uma mulher livre, sozinha, bem resolvida? A masculinidade acredita fielmente que estamos desesperadas por um homem. Porque é isso que a sociedade vende. Que uma mulher está incompleta sem um macho. Que é amarga e infeliz, se não transa com todo mundo. Que tem algum problema se não está namorando alguém. Que é mal resolvida com sua sexualidade, se opta por não ser puta.

Ficar sozinha não é uma opção aceitável. E não estou dizendo que uma mulher livre, necessariamente deva escolher estar sozinha; mas que decida estar com quem ela quiser, quando quiser; que suas escolhas devem ser respeitosamente atendidas.

Atitudes de insistência como essa, nos fazem refletir no quanto nossa segurança pessoal é fragilizada, é exposta na verdade. Lembro que uma vez tive que ameaçar chamar a polícia, porque um desses machos sem noção, ameaçou vir bater na minha porta pra me intimidar; argumentando que a minha negativa a seu respeito, nada mais era do que um jeito sutil de o deixar mais interessado, e que certamente na sua presença, eu não resistiria aos seus encantos. Kkkkkkk

É impressionante a autoestima de homem, ainda mais se comprometido. PQP! O que temos que aturar? Se acham mesmo os mais perfeitos dos presentes de Deus. Como se para mim fosse minimamente interessante trocar a minha paz por um golpe tão antigo, mesmo que fosse por “um momento apenas”, como eles alegam.

Não. Não mesmo!! Acho que seria burrice demais para alguém como eu, já tendo superado tantas frustrações, se conformar com migalhas de apego tão superficiais, só para machucar a mim e aos outros.

Eu sei o que mereço. Isso não tem nada de moralidade, contexto religioso, nem mesmo social; é mesmo uma questão de autoamor, autorresponsabilidade e porque não dizer autoestima; saber se perceber num campo de não mais ceder aos desejos apenas. Se colocar como prioridade.

Se eu escolher estar com alguém será por afinidades mentais, um corpo é só um corpo. Dinheiro, poder, posição social... Já experimentei o que é passageiro, o que eu quero é a solidez do que é real; se isso vai acontecer eu não sei, mas por hora ainda é meu o poder da escolha.

Izângela Feitosa