AO LADO
AO LADO
Você faz questão de ter
alguém do seu lado, ou só ao seu lado?
Pode parecer a mesma
coisa, mas não é. Quando alguém está do seu lado, nos passa a ideia de
localidade, apenas fisicamente; como alguém que se senta numa cadeira ali e não
corresponde a uma intimidade necessariamente, não divide com você nenhuma
opinião comum. Ao passo que se alguém está ao seu lado, remete a ideia de
concordância, é aquele que te olha nos olhos, segura tua mão e faz contigo um
plano de seguimento comum. Ter alguém ao nosso lado faz muita diferença.
Pois bem, polêmica de
hoje é essa. Como muitos sabem, sou uma eximia observadora das relações, esse
objeto de estudo íntimo, me permite fazer considerações baseadas nas coisas que
sinto, e claro não há um fundo científico e nem precisa ser celebrado como
correto. Não tenho tal pretensão, mas gosto de refletir a respeito de modelos
de intimidade que na realidade passam desapercebido pela maioria das pessoas.
Quantas vezes você
achou está ao lado de alguém, quando na verdade estava apenas do lado? É aquela
história, presença física é muito mais do que se sentar, é sentir.
Observo o quanto as
pessoas se esforçam para serem vistas dentro de seus relacionamentos, até
desistirem de insistir, e passarem a ser simplesmente um apoio nada
convencional. Conveniente ou não, existem sinais que denotam as distâncias
internas, mais precisamente afetivas. Mulheres gritam com silêncios...
insuportáveis. Será que valho mesmo tamanho tanto faz?
A máxima da
singularidade feminina é calar. Quando isso acontece, é porque ela já tentou
demais ser ouvida, vista, sentida, percebida, desejada. Ela já chegou no ponto
da análise do tempo, dos prós e contra. Não reclama mais, só vai deixando o
tempo passar até não suportar.
Admiro aqueles casais
que conseguem ter vidas individuais e ainda assim serem tão unidos. Casais que
fortalecem individualidades necessárias, sem desprezar o melhor que identificam
no outro.
Há amizade nessas
relações, e a amizade é um vínculo tão poderoso que nos liga a uma intimidade
real, onde não preciso fingir ser o que não sou. É a transparência do meu ser,
que mantém o vínculo fortalecido. Amigos, amores e amantes. Esses que conseguem
dialogar com palavras e se comprometem em silêncio. Onde as mãos se tocam com
verdades, e os beijos são provados puramente por saborear tal necessidade. É a
fortaleza dos sentimentos, que nos faz querer sempre perto AO LADO quem de fato
amamos.
Desconfio de casais que
que se esforçam ao máximo para manterem distância. Não acredito numa “saudade”
que não faz falta. Não confio em quem não deseja está ao seu lado pelo tempo
que pode. Ou mesmo não cria possibilidades.
Trabalhar, estudar,
corresponder as obrigações diárias e corriqueiras, mas sempre deixar um tempo
para curtir o outro. Porque não é ONDE, é COM QUEM!
Uma praia num fim de
tarde, ao pôr do sol, não tem o mesmo brilho se você não sabe sentir essa
presença com alguém, ou mesmo sozinha, se assim for o caso. Mas nunca mal
acompanhada. Existem pessoas que não conseguem ver beleza em nada, porque se
acostumaram a ser puramente infelizes. Entraram num looping de um ciclo vicioso
que não cabe mais reflexão.
Percebo que existem
casais que preenchem seu tempo com atividades para se manterem o máximo
distantes um do outro. As semanas são preenchidas e aos fins de semana,
trabalho extra. Motivando a reclusão, a não socialização afetuosa. O cuidar do
outro. E quando possuem um tempo juntos, as vezes protocolar, não partilham
mais assuntos. Nada no outro interessa mais. As pautas passam a ser puramente
práticas e formais. Não há mais o desejo nas pequenas coisas. Há uma limitação
de descobertas que gera, e sei disso. Um desconforto pessoal, como se tudo no
outro irritasse. Impacientes, limitados, distantes, desconhecidos...
Equipamentos
eletrônicos, tomam as vezes de conversas mais interessantes, abrindo
possibilidades para quem está do lado, ocupar o seu lado. Estranhos e frios, os
casais seguem executando dia a dia o que não os alimenta mais. Há uma fome de
presença real, de interesses mútuos que não consegue mais viver de dieta.
Há tristeza nos olhos,
de quem ainda insiste nesse conceito. Como um dia nublado, o outro passa a ser
cinza, frio e não há como aquecer onde já não tem fogo.
Desconfio de pessoas
que preenchem seu tempo com tudo, mas não tem tempo para amar. Mas amar de
verdade! Com gosto!!
Não estou falando de
post em redes sociais, enganosos. Estou falando do brilho nos olhos que só a
intimidade traz. Daquele riso fácil dos amantes felizes, dos pés entrelaçados
na cama, ao fim de tarde em plena quarta-feira, só para curtir um ao outro. Dos
filmes juntos, dos passeios, dos discursões políticas, sob pontos de vista
diferentes. Dos beijos convidativos; dos segredos ao pé do ouvido, dos elogios
sinceros de quem celebra de verdade o que ver; de fazer amor a qualquer hora,
em qualquer lugar, se sentindo livre, amada, e muito gostosa.
Não dá mais para
dividir a cama e não dividir o melhor da vida. Ninguém merece esse quase amor.
Ou é, ou não é! Ou me faz ser mais feliz, ou dá no pé.
O tempo das coisas boas
é você quem escolhe fazer. Nada é mais gostoso do que sentir que a saudade de
quem saiu há poucas horas é real. Que um mínimo de tempo é mais que suficiente
para saber que bom mesmo é ter alguém AO SEU LADO.
Izângela Feitosa
Realmente faz diferença estar do lado de e estar ao lado de. Esse é um texto que propõe uma reflexão.
ResponderExcluirConcordo com vc, prefiro estar só, do que apenas ter alguém do lado
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