A BLEEZA DO TEMPO
A Beleza do Tempo
Encontrei essa foto arrumando
coisas guardadas.
Um passado de lembranças que
hoje consigo enxergar de um jeito tão especial. Me olhar agora é estranho e ao
mesmo tempo libertador.
(Essa foto deve ter uns 20
anos).
Me dei conta do quanto eu era
bonita. Da simplicidade que carregava. Era um tempo de naturalidade, toda
maquiagem usada aí, não passava de um lápis de olhos preto, e um batom bem
singelo. (Coisa de senhora casada!)
Era assim que eu projetava
essa mulher. Uma criatura pensada para agradar aos outros, muito confusa de
quem poderia ser. Um rascunho socialmente escrito para corresponder aos desígnios
de uma sociedade impositiva, que não deixa a nossa feminilidade viver.
Realmente só me dei conta da
minha beleza hoje.
É estranho, porque vivendo
esse papel eu me detestava. Não conseguia enxergar em mim nada satisfatório o
suficiente para agradar a quem eu, de fato gostaria. Fui me perdendo de mim. Foi
tentando agradar os outros que eu passei tantos anos me desagradando.
Todos os defeitos possíveis me
erram apontados, e aquele ataque diário de desconstrução da minha própria
imagem, me fizeram acreditar que eu era feia, incapaz, insuficiente e muito longe
do que eu sei que sou.
Os ciúmes eram usados como um
escudo confuso de expor razões conflitantes. Como você acusa alguém de suas
inferioridades e ao mesmo tempo zela por isso?
Tudo que hoje eu tenho toda
certeza de que não sou.
Agora, no auge dos meus mais
de quarenta anos, eu compreendo que tudo não passava de insegurança,
imaturidade, apegos, e muita falta de amor-próprio.
Sou uma mulher que não tem
mais as qualidades visíveis nessa foto, o padrão, a juventude, os cabelos
alisados, uma preocupação constante em se manter no peso, para ainda assim não
está boa o suficiente; mas hoje eu gosto e admiro tudo em mim.
Alguém pode até não acreditar.
Podem achar que é falácia para vender uma ideia de mulher empoderada, mas o meu
poder hoje não está no que os olhos veem. A minha beleza mudou de conceitos e
de lugar, e agora ela sabe exatamente onde está, e de lá não vai mais sair.
Izângela Feitosa
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