Quem compreendeu o Amor, entendeu tudo.

Quem compreendeu o Amor, entendeu tudo.

 

É estranho falar de amor a essa altura, quando a saudade se faz tão presente. Mas diante de tudo que estamos vivendo, nesse cenário de morte constante, muitas vezes tratado com banalidade, sinto uma inquietação em falar sobre sentimentos analisados a partir do que sinto, porque sempre falo a partir de mim.

A estranheza da saudade, causada pela morte, que nos resguarda momentos puramente íntimos, onde as lágrimas encontram na face canais transbordantes de sentir. Sinto muitas vezes assim! Pelos meus, pelos próximos e até mesmo pelos distantes. Há uma empatia generalizada que nos une nessa dor global. Nunca tivemos tão cara a cara com essa sensação tão difícil.

Penso hoje no quanto Deus nos permite trabalhar em nós esses sentimentos. Sei com toda certeza desse mundo que não é de sua natureza nos oferecer a dor, mas os nossos apegos mundanos, carnais nos dificulta nesse processo.

Lembro bem do quanto foi difícil me despedir ainda em vida de um grande amor. Todo processo de luto antecipado, aos poucos, o que a princípio me parecia abrupto, foi começando a fazer sentido, quando entendi que precisava me desfazer do que eu havia elegido por minha vida. Eu precisava do suporte necessário de amor-próprio para poder superar todas as perdas, aos poucos, de maneira forte, por mim, por nossa filha.

Essa prova de desapego comum a nós, foi sentida numa separação de corpos a princípio, que rompeu um elo profundo e diário de vida que precisava ser redesenhado sem ele.

A substituição em nossas vidas, de sua ausência, foi uma escolha criteriosa que Deus usou para nos fortalecer, uma à outra. Eu tive que matá-lo dentro de mim, antes que morresse definitivamente para o mundo.

Por muito tempo não compreendi, a recusa, à insatisfação, a insistência em nos manter ainda sob a pretensão do cárcere, como se ainda fôssemos ligados por correntes, aprisionando não mais por sentimentos bons, mas por uma confusão dúbia de amor e ódio. Que não encontrava justificativas alguma, porque ele viveu todas as vontades e desejos que quis viver, na sua intensidade de vida, não perdeu um minuto sequer de seu tempo, sem deixar de fazer absolutamente tudo que queria. Como se soubesse que o tempo estava se esvaindo, ele correu até conseguir voar.

Tantas vezes o analisei de fora, e mesmo com o coração ferido tentei encontrar motivos para não o condenar. Ninguém o conhecia tanto quanto eu!! Eu sabia, poderia prever toda a inquietude e intensidade que agonizava no interior daquele que foi por quase 20 anos a minha parceria ideal.

Durante essa jornada rompida, caminhamos distantes, mas unidos por uma única pessoa, que é o melhor de nós, aqui na terra.

Os ataques, histerias, revolta, incompreensão hoje encontram a mais pura razão de ser, porque não era sobre mim, ou sobre ela, era ele!! Toda aquela impaciência e recusa de encarrar os fatos, a pressa em beber até a última gota de vida, até se embriagar de vez e não sentir mais nada, era a única forma correta que ele achava de lutar por si. Assim foste até o fim!

Quando tudo acabou, em meu coração já endurecido, marcado por tudo que já havia sofrido, só me restava a certeza de que vivemos tudo que tínhamos que viver.

Foste embora sem se despedir de mim, porque já éramos estranhos, havíamos seguido em direções diferentes.

Hoje diante da saudade e respeito que aprendi a ter por tudo que vivemos, boas ou não, encontro resposta capazes de me fazer ter contigo a melhor das saudades, pois fazes parte de mim. Há um lugar marcado de sentimentos que só existiram por causa dele, e isso é irreparável.

Obrigada por tudo!!

Até qualquer dia!

O meu amor será sempre eterno, porque quem compreendeu o amor, entendeu tudo!!

 

Izângela Feitosa