Quase sentir.

        

A gente desaprendeu a sentir.

 

“E hoje em dia, como é que que se diz eu te amo?

Sem esse de que estou sozinho ...”

Renato Russo

 

Tenho pensando nas questões relacionais, escutado opiniões diversas, procurado respostas que possam nos fazer, de maneira objetiva, compreender as dificuldades de se manter relacionamentos atuais.

Talvez seja uma deficiência minha, não sei! Mas a verdade é que não tem sido fácil encontrar pessoas dispostas a esses encontros para além do que chamamos “casual “. Me parece que as relações se tornaram perecíveis, que seus elementos não sustentam mais como deveriam, em sua natureza original. Baseado em aditivos superficiais se gosta é se desgosta numa velocidade interativa como nos aplicativos de busca por parceiros. Um cardápio de pessoas nada convencionais.

Vocês já perceberam como é descartável? Subjetivo, fugaz? Tentamos expor ali numa única página toda nossa melhor parte, como um cartão de apresentação, propaganda usada com a única finalidade de se vender uma imagem, associada aos seus produtos principais, sem deixar que o cliente perceba a má qualidade deles.

Não julgo. Também existem ali, pessoas interessantes, capazes de serem apreciadas, principalmente quando se pode minimamente provar do material de intelectual. (Pelo menos no meu caso). Aliás essa deveria ser a proposta primeira, porém a verdade deixou de ser elemento de essência e passou a ser vez por outra o que convém. Se mente sobre absolutamente tudo! Idade, altura, imagem, aptidões, caráter e principalmente vontades.

Nada real, todo mundo diz que quer um amor, mas poucos estão verdadeiramente dispostas as renúncias e as dificuldades que o amor exige. Cada um expõe ali a sua própria maneira de ser amado, (como se o amor aceitasse protocolos), delegando de imediato o que lhe faria supostamente feliz.

Isso porque estou falando em AMOR, que na verdade é o que menos se encontra nas relações hoje em dia.

Parece que o mundo perdeu a noção do vínculo e passou a experimentar, de forma indiscriminada tudo que lhe for ofertado, que ao invés de completar nos deixam ainda mais vazios. Tudo é oferecido e descartado facilmente. Os corpos estão desvinculados de sentidos, de sentimentos, de suas verdades. O prazer dura apenas uma noite! (Quando dura!). Numa confusão mental que não se sabe onde começa, nem termina a carência afetiva. Estamos doentes, ausentes, perdemos a noção dos sentimentos e esperamos que alguém nos mostre o que nem sabemos identificar em nós. Diante de apegos, a mente projeta medo, e a única solução viável é fugir... o mais rápido que puder.

Não condeno o sexo desvinculado do sentir, acho válido para quem deseja experimentar. Afinal de conta, nada é resoluto de imediato, e muita gente consegue encontrar o amor através da casualidade. Mas ainda assim é vazio. Falta conexão. Fica ali mesmo na cama. Não vai embora com você. Não tem cheiro, não tem gosto, muitas vezes nem tem rosto, nome? Não tem!

Precisamos sim lidar com questões sexuais relacionais voltadas ao prazer, sem perdermos a ternura de sermos humanos, amáveis, intensos, quentes, vivos...Mas também inteiros.

Não se diz eu te amo justificando a carência. Se diz sentindo absolutamente tudo! Porque amor é visceral, nasce a partir de nós e precisa ser cultivado como tal.

Não precisa sentir medo de sentir. Está tudo associado. Uma hora alguém vai notar que o que tu tens para oferecer, é gostoso, pode ser apreciado aos poucos, sem ter pressa para acabar de uma só vez. Pedaços generosos de gente gostosa como se deve ser.

Saboreie a vida. Deixe-se saborear! Aproveite as oportunidades sem se enganar. Pessoas são especiais. Não dá para gostar de alguém sem se dá o devido tempo de descoberta, de apreciação. A admiração ainda é um atenuante de desejos sexuais intrigante e gostoso demais.

A gente desaprendeu a apreciar a simplicidade do encontro, do olhar, do sentir, do querer ficar. Da boa conversa, das afinidades. Das gentilezas... Do quero mais!

Perdemos a ansiedade da dúvida saudável. Nossos modelos de desejo são nossos. Não se tem mais paciência em se conhecer. Exigimos do outro o que nunca poderemos ser. Perfeitos e intensos. (O tempo todo!)

Vivemos tempos de amores imediatos e abstratos. Frágeis!

Precisamos nos demorar mais antes de escolher o próximo. Ás vezes o teu par ideal até já te encontrou; mas tua urgência foi incapaz de perceber que mesmo não perfeito, ele poderia ser alguém muito especial.

Existe algo especial na paciência, na oportunidade do dia a dia, mesmo a distância. Não é justo que nos permitamos ao descarte por pura precipitação. A vida é breve, é verdade, mas ela é mais gostosa na raridade do aprendizado, do que na pressa da conveniência.

 

Izângela Feitosa













Comentários

  1. Amiga, acho que as pessoas estão acostumadas a queimar etapas, por isso os relacionamentos não duram. Sei lá as coisas acontecem numa velocidade sem igual...

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  2. Ótima reflexão, é desse jeito mesmo hoje em dia, mas ainda existem pessoas que se permitem sair desta normalidade desapegada do mundo atual.

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  3. Sensacional 👏👏👏👏👏👏

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