Trabalho e Tesouro

Trabalho e Tesouro

               Acordo cedo num domingo chuvoso e a primeira coisa que me vem a cabeça, são as responsabilidades. Tais preocupações me acompanham desde que me lembro por gente. O fato de ficar sem fazer nada, nada mesmo... não é uma coisa que pratique de bom grado. Há em mim uma necessidade quase patológica, de mover em produtividade, as vezes puramente intelectual. 

    Por mais que em todos os dias exercite minha mente, aprendendo, me dedicando, semeando planos e focado em crescimento intelectual e espiritual, muitas vezes me pego com um sentimento estranho de inutilidade. Meu pensamento essa manhã foi esse! Sinto-me estranhamente presa as coisas materiais. Sinto também que não deveria. 

 Quem me conhece sabe o quando gosto de trabalhar, de manter minha mente ocupada com o que posso oferecer de mim aos outros. Isso me faz sentir bem. Também não posso negar que preciso de dinheiro para suprir minhas necessidades básicas minimamente. A minha humanidade solicita respostas práticas, contadas, pesadas e medidas, enquanto a minha espiritualidade entra num conflito caótico, de saber que tudo tenho. Até hoje nada me faltou! Mas meu ser vulnerável ânsia por mais. Por quê?

          Tenho dedicado tempo para trabalhar em busca dessas respostas. Estamos vivendo a experiência do desapego como nunca imaginada. Se apegar as coisas, da nossa natureza humana promove uma busca  por uma infelicidade, que não encontra nunca fim. Quando condicionamos as nossas vidas a “coisas”, deixamos de saborear a felicidade gerada, vivida e compartilhada das pequenas ações, simplesmente por ansiar pelo que não temos, deixamos de celebrar com os olhos de gratidão o que já possuímos.

          Viver no agora, sentir a máxima qualidade daquilo que ninguém nos toma. Deus já havia nos ditos: “Preocupa-se com o teu dia de hoje!” Ou ... “Não adiante juntar tesouros na terra!” ... “De que adiante ao homem ganhar o mundo e perder sua alma.”  

          A nossa natureza perfeita corrompida pela humanidade, que nos elege o livre arbítrio, nos confunde, fazendo-nos acreditar que precisamos de mais, e nisso está o trabalho. Também como promessa de condenação, desde o início do mundo, foi nos dado como diferencial entre os outros da criação. O homem, é o único ser que “precisa” trabalhar para sobreviver. Disso por conta da inteligência a nós atribuída, achamos que ter, é mais importante do que tudo nessa vida. Somos criados assim. 

                O problema está em condicionar tudo a apenas isso! Dinheiro e poder, desde os primórdios, são os maiores venenos da nossa civilização. Costumo dizer, que existem provas em ser pobre, mas que também há prova em ser rico. Veja bem.

          Quando crianças não temos tais preocupações. Nossa cabeça infantil é incapaz de avaliar criticamente as muitas dificuldades, exercidas por nossos responsáveis para suprir nossas necessidades básicas. Acontece, que para uma criança, o mais importante não está no valor aquisitivo, está no valor afetivo com que as coisas lhe são acrescentadas. Tudo que é nos dado por amor, sabemos compreender melhor. Quando adultos associamos “valores” monetários, que nos acompanharão por toda nossa vida. Muitas vezes nos tornando escravos e consequentemente muito mais infelizes.

 É essa luta que travo agora. Não tenho vergonha de admitir. Por muito tempo na minha vida eu realmente achei que dinheiro, poder e status fosse fundamental. É por isso que ainda sofro. Porque parte de mim ainda reluta em entender que não é um emprego, ou o quanto ganho por ele que me fazem ter valor. Está naquilo que construo dentro de mim, sobre mim e com todo o resto. Sinto que jamais me faltará nada! A riqueza que procuro sempre esteve dentro de mim. Está!! Isso ninguém toma!

Um dia em oração eu li essa palavra: “Porquanto houve isto no teu coração, e não pedistes riquezas, bens, ou honra, nem a morte de teus inimigos, nem tão pouco pedistes muitos dias de vida, mas pedistes sabedoria e conhecimento...”

Ao fim dessa palavra ,Deus promete que dará mais do que foi pedido, e assegura mais uma vez que nada faltará.

Só hoje compreendo o poder dessa promessa.

No silencio que embalo agora em meus pensamentos num trabalho espiritual, de quebra daquilo que se pode ter; que em nada tem a ver com o que se pode comprar, reconheço a força imensa dessa promessa.

Não sou inútil. Tão pouco preciso de um contrato assinado para saber a quem sirvo verdadeiramente. Estou em paz!

Ainda preciso correr atrás do meu hoje. Afinal de conta de que adianta a fé sem ação. Esperançar, não significa inercia. É preciso agir! Mas agir com o coração certo do que é valor...agora, pois nem só de pão vive o homem.

A felicidade que me completa já passou por lugares escuros, que pareciam reluzir. Mas nem tudo que reluz, é ouro. E há tesouros que só se encontra se perdendo em si.

 

Izângela Feitosa






Comentários

  1. Muito! muito bom vc escreve com uma habilidade com as palavras de um escritor veteranos! Meus Parabéns!

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