O GOSTOSO CHEIRO DE A.MAR.
O Gostoso Cheiro da A.MAR
Sempre gostei de praia, gosto do sol, da arreia, do barulho
das ondas, da grandeza do mar, é como um imenso recibo de que sim, existe um
ser grandioso capaz de transformar as coisas. O mar sempre me trouxe uma
sensação de paz interior, consolo que inspira, transborda em gratidão. Nossos encontros
pontuais são sempre cheios de renovo, consigo sentir toda a energia circular
que aquele conjunto de coisas me traduz.
Quando éramos crianças, papai e mamãe trabalhavam o ano inteiro
pensando nas nossas férias em Fortaleza, juntavam um dinheirinho, faziam mil
planos e pegavam aquelas quatro crianças dentro de um carro, brigando a viajem
inteira durante aqueles intermináveis quase 400km. Lembro bem que nossa
ansiedade era tanta, que quase não conseguíamos dormir a espera do horário marcado
para a viajem. As 4horas da manhã já estávamos todos em pavorosa, loucos por
aquele momento. Era a semana mais espacial das nossas vidas. Estar em Fortaleza,
na casa no nosso tio era como ganhar um prêmio muito especial.
Lá nos uníamos a tantos outros, tios, primos, primos dos
primos. Até hoje fico pensando como tia Vilany conseguia acomodar tanta gente
dentro de um apartamento. Matematicamente incompreensível, uma magica que só
ela conseguia fazer.
Vou te contar. Tinha menino dormindo em sofá, espalhado em
colchões por todos os lugares, inclusive debaixo da mesa de jantar. Redes por
todos os lados. Privacidade era artigo de luxo. Imagine a luta que era pra todo
mundo tomar banho e se arrumar¿ Ela colocava a mesa das refeições três vezes,
dividida em categorias bem definidas: primeiros as crianças, depois mais jovens
e por último os adultos. Lembro bem da minha avó, ela gostava tanto de comer
que se sentava na mesa, no horário das crianças e ficava até o último adulto
sair, afinal não existia uma categoria para os idosos, então ela se sentia
comtemplada em todas elas.
Nosso Natal era animado, muitas luzes, a arvore arrumada no
capricho. Muita comida e música. Roberto Carlos sempre fazia meus tios chorarem.
Entre uma discussão e outra declarações de amor eram tecidas de um jeito bem
peculiar. Havia troca de presentes, e
mesmo aqueles que não estavam fazendo parte do coletivo familiar, era contemplando
com uma lembrancinha afetuosa, destinada aos que porventura aparecessem de
surpresa. Ninguém saia de mãos abanando.
A casa cheirava a biscoito amanteigado, empadão de frango, gratinado
e a famosa torta de ameixa da tia. Receitas tradicionais que só ela sabe fazer.
Tinha peru, pra todo mundo, farofa e castanha portuguesa. Vinho, champanhe e
cerveja (claro!). Tinha cheiro de amor e partilha.
No Réveillon a festa ganhava outro espaço, descíamos para
praia, show de fogos naquele céu de estrela. Não dormíamos até a hora da virada.
Tínhamos que molhar os pés, pular as sete ondas e abraçar todo mundo com um
FELIZ ANO NOVO! Àquela altura já se
havia cantado em todos os lares aquela famosa melodia: “Adeus ano velho, feliz ano
novo...” E numa imensa cirando a paz
reinava em nossos corações.
A gente
não entendia, mas aquele ritual tinha um significado muito forte e particular. Era
como se disséssemos ao mundo, que queríamos aprender e recomeçar.
Durante o dia íamos a praia,
era a hora da nossa diversão, ouvíamos histórias, comíamos peixe, caranguejo,
camarão, corríamos e fazíamos castelos de areia. Aquela sensação de liberdade
era imensa, não tínhamos a preocupação de adultos, nossa alegria era simples,
bastava as ondas do mar.
O tempo foi passando
e hoje não temos mais esses encontros programados, agendados com antecedência e
certeza. Nossa vida se tornou ligeira demais. Seguimos caminhos diferentes, um
ritmo frenético nos muda sempre de lugar.
Mas essas lembranças estão tão vivas em minha memorias que
se fecho os olhos sinto o cheio do mar. O barulho das andas e principalmente
uma saudade enorme desse tempo vividos. Fomos muito felizes.
Acho que é por isso
que amo tanto a praia, o mar, o sol...Tudo! Porque todas essas coisas me levam
a um lugar de felicidade, de partilha, de fraternidade, de amor. Me leva de
volta aminha infância. Ao abraço dos meus tios, aos risos dos meus primos, a vida
que faz falta hoje. Me levam ao gostoso cheiro de A.MAR.
Izangela Feitosa
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