Amar Incomoda
Amar incomoda
Há
três anos participo de um grupo para população LGBTQIA+ na minha cidade. O
grupo nasceu de uma proposta em saúde, voltada principalmente para entender
como essa população era vista e atendida dentro dessa política. Não por acaso
as demandas em saúde mental para pessoas LGBTs são tão evidentes quanto
negligenciadas, e foi pensando nessa proposta que o grupo Acolher tomou corpo e
voz, numa cidade que ainda pequena, já recruta a olhos nus a necessidade dessa
atenção.
Durante
todo esse tempo estando com eles, tenho aprendido evolutivamente muito mais do
que teorias, mas um jeito novo, simples e honesto de perceber o outro com olhos
de amor, sobretudo a partir das minhas próprias dores.
O mais
intrigante dessa formação conjunta, é que sempre que posto uma foto com o
grupo, ou com os amigos que lá tenho, preciso está reforçando a minha
sexualidade. TODAS as vezes sou questionada:
Será
que ela é “SAPATÂO”? “BISSEXUAL”? O que será que essa mulher tem a ver com isso?
Sempre ignoro essas suposições! Faço de propósito. Não respondo, e como resposta deixo que as pessoas percebam o quanto é irrelevante questionar a sexualidade de alguém, quando o que realmente importa é o quanto isso pesa na vida e na condição de saúde dessas pessoas.
A sexualidade nunca esteve tão presente em debates atuais. Questionar desejos, vontades, identidades... Será mesmo que existe a sexualidade correta? Será que é preciso se DECLARAR, expor ao mundo o que desejo?
Ao que parece há um descredito quando se diz que alguém é BISSEXUAL. Como que se afirmando nessa condição, ele estivesse ilegitimando o que o padrão já reprovou, e o que o próprio movimento LGBT já conquistou. Só nos mostra o quanto estamos necessitados de rótulos. A heteronormatividade ameaçada pela homossexualidade contrapunha duas ideias destintas, o que conflitua com a bissexualidade, pois ela permite não mais escolher entre duas possibilidades, mas nos sentirmos a vontade para amar a nossa maneira, pessoas para além do que simplesmente um corpo oferece. Está além do que se pode perceber, na profundidade do sentir, bem mais real.
Humanamente falando, esse talvez seria o
ideal perfeito de amor que CRISTO desenhou para todos nós. Simplesmente AMAR. Deixando em segundo plano conjunções carnais. Sem a necessidade explicita de exigir modelos, mas deixarmos sentir... apenas
isso.
Me
pego fazendo reflexões a respeito do quanto precisamos de motivos para amar. O
quanto a nossa sociedade foi conturbando esse conceito, baseado em religiões,
regras sociais, modelos pré-estabelecidos de ordem que nunca, jamais trouxeram
como pauta fundamental a felicidade. Por essa razão se ofende os “diferentes”,
se excluem os excessos, na busca irritante de organizar o que, por
natureza não pode ser organizado a partir do ódio, da ira, do julgamento.
Amar é
a proposta! (Estou sempre batendo nessa tecla!)
Qual o
seu modelo de amor? Ele tem um modelo? Raça, gênero, cor?
Qual o
seu modelo de amor?
O que
ofende, reprime, sufoca, agride, adoece, exclui, mata?
O meu
modelo de amor é amar, sem modelos. Isso não me exclui dos erros, mas me coloca
num lugar de aceitação e permissão daquilo que experimentalmente posso
descobrir me fazer feliz. Se pergunte:
O que me faz feliz? Quem me faz feliz?
A
bissexualidade é apenas mais uma proposta nessa busca por amor, por afeto, por
carinho, por atenção. No fundo é o que todo mundo deseja de alguém. Seja em que
corpo esteja. Pode ser uma escolha...Mas pode ser apenas uma forma natural de
nos enxergarmos como seres relacionais, diversos e carentes de sentimentos
reais. Não cabe a mim definir.
A
lição que aprendo com os meus semelhantes, tão diferentes, é maior do que se
pode ver numa foto. Está nos olhos e nos sentimentos de amor que cultivamos
entre nós, com RESPEITO e principalmente autoconhecimento.
Os
olhos que condenam, são autocondenáveis. O que aponto no outro diz muito mais
sobre mim. Em tempos de guerra emocional, amar incomoda. Procure você a sua
cura, antes de prescrever aos outros, remédios baseados em ódio. As vezes o
doente é o médico.
Izângela
Feitosa
Já sou fã.
ResponderExcluirBoa tarde ! Amiga sem comentários só parabenizar e repassar adiante toda sua sabedoria e conhecimento .Abraço ! Saudade !
ResponderExcluir👏👏👏👏👏
ResponderExcluirAdorei a publicação👏👏 , o tempo todo com certeza estamos querendo afeto e carinho !
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