A difícil arte dos encontros maduros
A difícil arte dos encontros maduros
Vou
contar mais um dos meus segredos:
Costumo
entrar em apps de relacionamentos para pesquisar sobre relações.
Entre
uns e outros “maths”, tenho me deparado com algumas coisas bem interessantes. Pessoas
que assim como eu, estão interessadas em conhecer pessoas e a partir
daí exercer, quem sabe, vínculos.
Fato
é que nesses aplicativos, monta-se um cardápio de quesitos que vão direcionando
os interessados, através de pontos de afinidades. No meu caso, a idade é um dos
pontos de relevância. Não é que desinteresse de homens muito jovens; é que por experiência própria, desde as primeiras conversas, (a conversa também é um
ponto importante) nota-se claramente a superficialidade de uma relação. Não há
surpresas quando se pode compreender que o assunto mais evidente dentro dessa
proposta é sexo. Objeto que se tornou tão descartável, que nunca foi tão fácil chegar
a essa experiência e mais fácil ainda se desfazer do outro por causa disso, ou
depois disso. Sexo é sim um gerador de encontros cada vez mais atual.
Não
quero que me compreendam mal. Não digo que sexo casual seja algo negativo. De fora
alguma! Sempre aposto naquilo que é bem definido entre os envolvidos. Acredito que o ponto principal seja mesmo a
clareza com que se expõe as coisas.
Dentro
os homens da minha faixa etária selecionada, gosto de perceber aqueles que se
dão ao trabalho de descreverem sobre si. Coisa rara por sinal. Na maior parte
deixa-se apenas um nome vago, idade e algumas indicações de natureza generalizada,
como qualificação profissional e distância de localização.
Dentre
as conversas que me envolveram, pude perceber uma peculiaridade: Há uma busca teórica
por relacionamentos reais.
Teórica!? Sim !
Pois
quando se desenvolve um diálogo mais estruturado se descobre dificuldades, por
exemplo: Poucos estão dispostos a renunciarem a seus confortos. O que eu
compreendo bem; pois quando se tem a certeza do que já viveu, fica mais difícil
abrir o coração para novas experiências, especialmente quando já se viveu relacionamentos
de natureza complexas, e agora experimentam a solitude da maturidade sem a
responsabilidade de um casamento. Tudo é bem mais natural.
Ao
que parece homens e mulheres chegaram a um ponto onde se compreende que viver
sozinho, não é de todo mal. Embora saibamos facilmente viver assim, independentes
e satisfeitos de nossas condições, QUEREMOS, o chamego de um amor maduro, o companheirismo
de uma amizade capaz de te fazer ser feliz, sem te destituir de quem és. A sorte
de poder ter do seu lado alguém capaz de te oferecer mais que uma noite de
prazer, mais dias e dias de boas risadas, carinho e dedicação. Fomos feitos
para amar e ser amados, isso é indiscutível.
Mas
onde está a dificuldade? Nas cicatrizes que muitas vezes deixamos abertas,
através de nossas vivencias?
Homens e mulheres vivem hoje conflitos de gerações difíceis de se encaixar. Alguns homens
não conseguem entender uma mulher que não se comporta mais como sua.
É
verdade que nem todo homem tem medo de lidar com a segurança de uma mulher dona
de si, que sabe o que quer e não se permite mais a ser apenas alguém do lado. Ela
tem seu próprio espaço e quer somar.
Tem
se tornado uma queixa cada vez mais difícil encontrar alguém na maturidade. Arrisco
dizer que minha geração terá que aprender a viver realmente só. Justifico essa dificuldade como reflexo de nossa
educação machista, que não contava com toda mudança social atual. Homens
maduros tem medo de mulheres que esbanjam segurança e atitude.
Houve
um tempo em que mulheres independentes, solteiras, divorciadas, maduras, eram
mal vistas pela sociedade. Todo homem procurava, na verdade, uma mulher
submissa, que se preocupasse apenas com o seu bem estar e dos afazeres domésticos.
Agora
vivemos um outro ciclo. Já se foram os casamentos, os filhos estão criados,
outras prioridades nos atingem. Voltamos a viver livres, mas diferentes daquela
liberdade vigiada, cheia de obrigações impositivas que tivemos no início da
juventude. Mas ainda somos jovens. Temos tanta vida para viver... e queremos
muito!
Fato
é que, embora ainda haja homens que valorizem essas criaturas donas de si como
verdadeiros tesouros que elas realmente são, muitos deles simplesmente evitam
mulheres honestas, abertas e fortes, e esses são alguns motivos:
Elas
são se iludem; são conscientes de suas escolhas e necessidades; não dependem de
homem para nada; tem padrões altos de exigência; não se rebaixam; tem uma vida
para além de qualquer relacionamento.
Mas
ainda assim somos seres relacionais, e precisamos encontrar meios de colocarmos
em execução a nossa felicidade comum. Falo sério e abertamente, como sempre...
NÃO DESEJO VIVER SOZINHA.
Enquanto
minha busca por esse amor maduro segue, vou tentando aprender mais, e sei que
preciso talvez me despir de egoísmos, que as minhas dores me trouxeram.
As
vezes a gente até encontra alguém que valha a pena, mas estamos tão receosos,
com medo de perder a segurança conquistada a duras penas, que deixamos passar. Trancados
em nossos mundos, cheios de amor para dar e procurando a todo custo se
convencer de que não é preciso, que está tudo bem como está. Que já somos suficientes!
A
difícil arte dos encontros maduros anseia por essa reflexão: Até quando vamos
naturalizar a individualidade, e romantizar a solidão?
Izângela
Feitosa
Espetacular!
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