Culpa
Cuidado com as dependências ...especialmente as afetivas!
É isso, nossa conversa hoje já começa assim, carregada de importância
e exercendo o papel de alerta.
Outro dia escrevi assim: Talvez abrir os olhos tenha sido o exercício
mais difícil que já fiz. Falo isso porque é verdade, mas talvez tenha me
mantido de olhos fechado por mais tempo do que deveria.
Como sempre faço, não costumo manter segredos sobre as coisas
que verdadeiramente eu acho interessante serem ditas, falar de dependência
afetiva é mesmo um assunto delicado, especialmente porque é um sentimento tão
nocivo e poderoso, que quase nunca nos damos conta de sentirmos. Classifico-o
como patologia mental, porque nos provoca ao nível de intelecto das sabotagens,
nos fazendo viver períodos de transe profundo, nos enganando e nos destruindo. Passei
por um período de conflitos internos, nesse nível doentio, que me faziam
desejar absurdamente alguém para mim. Era quase uma condição intrínseca para
aminha felicidade. Eu realmente acreditava que só seria feliz com alguém. Nem sei
quantas noites e dias em orações eu passei pedindo e implorando a Deus por essa
Graça, e embora eu tenha toda certeza do mundo que Deus escuta minhas preces,
eu não conseguia ver nenhum movimento quanto a isso. Talvez porque a minha
cegueira emocional me permitisse ver além do que eu queria e assim me mantinha
na pressão de encontrar alguém, e não de ser encontrada.
É complicado, mas vou tentar explicar. A gente deseja tanto
uma coisa, que aquilo passa a tomar conta de tudo que você faz, no meu caso eu acreditava
fielmente que aquela necessidade me faria ser feliz. Quanto engano!! Nessa busca
desenfreada por um companheiro ideologicamente perfeito pra mim, encontrei pelo
caminho muito coisa ruim, muito mais do que eu supunha no momento da vivência.
Agora falando com mais clareza, de olhos finalmente abertos,
pois encontrei em mim todo o amor que eu procurava, consigo fazer uma análise
desses processos e sem a droga das paixões presente.
Cronologicamente falando, foram sucessivos relacionamentos
abusivos, de formas de pessoas diferentes. Por quase todos eu me sentia um
lixo, quando algo dava errado. Ficava mal, perdia o apetite, chorava, e me
fazia um bilhão de perguntas, muitos “porquês”, até que me dei conta que todas
as respostas estavam no modo como me relacionava comigo. A gente não pode oferecer
aos outros aquilo que não conhecemos, e eu infelizmente não conhecia o amor.
Esses relacionamentos me fizeram conhecer lugares e caminhos
bem difíceis, me permiti ser abusada de enumeras maneiras diferentes,
infidelidade, mentiras, chantagem, extorsão, e até roubo. Perdi mais do que a saúde
mental, perdi tempo e literalmente perdi dinheiro.
Esse é um fato que eu gostaria de destacar, o quanto existem
pessoas que se aproveitam das nossas fragilidades e usam e abusam de nós. Por um
bom tempo eu me senti envergonhada por ter permitido ser tão facilmente enganada.
A culpa de carregar essa responsabilidade me cobrava todo dia por uma solução,
que nunca será sanada. Pois o que foi feito, não se muda, mas posso reformular
as minhas culpas e entender que não fui eu que tive a mau intensão. Que pessoas
sem caráter sempre encontram as nossas fragilidades para se beneficiar disso, e
que quem não tem nada de bom para oferecer só poderá oferecer o pior que tem
mesmo, e que eu só preciso entender que não é contra mim, e sim contra ele
mesmo.
Quantas mulheres como eu já passaram por isso? Quantas estão
passando? Quantas ainda irão passar? Porque a gente só quer ser amada,
desejada, feliz, e nos deparamos com relações de natureza suja, imoral. Muitas vezes
a gente até sabe que aquele cara não presta, todo mundo diz, mostra, está bem
claro, mas os nossos sentimentos de apego, não nos permite entender isso. No meu caso até minha intuição me alertou o
tempo todo, e ainda assim deu um voto de confiança, porque meus olhos não são
maus. Não consigo ver o mesmo que essas
pessoas veem.
Por mais difícil que seja essa lição eu pretendo lidar com
ela de um jeito diferente. Não quero me culpar mais. Não quero amargar uma
culpa sobre algo eu não tenho como mudar. O que está feito, está feito. Quero me
perdoar. Encontrar em mim um lugar novo cheio de gratidão e esperar que as
coisas se ajeitem. Pessoas vem e vão, coisas também, mas o que podemos fazer
por nós é aliviar nossos corações dos nossos perdões, para poder seguir em
frente, sem se fechar. Mas conscientes de que há muitas lições a se tomar disso
tudo. Acreditar mais nos sinais, não se entregar tão inteiramente, ter consigo
um diálogo de autoconhecimento capaz de encontrar mais respostas em si do que
nos outros e começar finalmente um relacionamento de amor com quem realmente
importa: VOCE!!
Possuímos um déficit de autoconhecimento que nos adoece,
procuramos em “pílulas” respostas para todas as soluções, e esquecemos de nos
perceber. esquecemos de nos promover o autocontrole. Estamos muito mais ligados
aos mecanismos de autodestruição. Quase nunca
estamos morando em nós. Necessitamos o tempo todo de moradas externas, quando já
possuímos nosso lugar ideal.
Meu recado de hoje é um pedido, uma sugestão. Que tal
trocarmos as culpas pelo arrependimento responsável? Entendendo que independe
de nós o que o outro tem a nos oferece. Errar todos erramos, e muitas vezes
tentando acertar. Alimentar culpas nos coloca em uma prisão constante de
lamuria, onde só podemos conhecer a infelicidade. Nem tudo requer nossa energia,
está preso as culpas é desperdício de vida. Vida que temos o direito de viver, plenamente
feliz.
Se desamarre dessas dores desnecessárias. Somente a gratidão
tem poder de corrigir aquilo que deu errado. Quem não se reconcilia consigo,
dificilmente viverá feliz com os outros. Isso também é evolução.
Izângela Feitosa
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