SEXÓLOGA


Sempre que converso com minhas amigas sobre nossos tempos de adolescência chegamos a um denominador comum. Eu fui uma adolescente muita sem graça e certinha! Nunca me aventurei a nada de transgressor. E embora quem me conheça hoje ache que não é verdade, eu fui um chata e absolutamente apática adolescente.

          A timidez, o meu senso de responsabilidade, o medo de cometer erros e principalmente de decepcionar a minha mãe me consumiam. Tudo que minhas amigas curtiram na adolescência eu deixei passar. Não provei bebidas, nunca coloquei um cigarro na boca, tive minha primeira relação sexual com o meu único namorado que se tornou meu marido. Exceto por uma atitude...

          Certa vez na escola lançaram uma palestra sobre sexualidade, assunto esse que para época era um total tabu. Resta dizer que a minha mãe jamais tocou no assunto menstruação comigo. Tomei um susto tão grande quando me deparei com aquele sangramento que pensei seriamente que fosse morrer. Chorei desesperada. Passei uma semana sem ir à escola, e morrendo de vergonha de todo mundo. Parecia que estava escrito assim na minha testa: -Não sou mais criança! Sexualidade pra mim era mesmo algo de outro mundo.

          Pois bem assim como eu (pode-se perceber a ignorância), muitas meninas também nunca haviam escutada falar sobre sexualidade, então a escola promoveu essa palestra com todas as turmas do ensino fundamental 2, que compreendiam as idades entre 11 e 14 anos.

          Uma sexóloga foi convidada para prestar esse enorme serviço que mudaria a nossa noção de entendimento sobre corpo, relacionamentos e ser. Ela era uma psicóloga, de descendência oriental, de aproximadamente 1,50cm de altura, usava óculos que quase cobriam todo o rosto, cabelos curtos bem lisos, simpática e bem desenvolta no assunto.

Assustados assistimos aquela apresentação que me permitiu pela primeira vez entender o funcionamento dos órgãos genitais e me apresentou aos métodos contraceptivos. Enumeras perguntas sondaram aquela profissional que prontamente respondeu a todas elas, sobe gritos, risos e piadas machistas descabidas, mas totalmente aceitáveis para a época. Eu, timidamente apreciei a tudo e jamais perguntei nada sobre o assunto...Deus me livre!

          Terminada toda aquela situação, não sei dizer por quê; suponho que por nervosismo, ou brincadeira, eu tenha cometido o ato mais transgressor e obsceno da na minha adolescência.

 Ao sair do momento da palestra, eu e outra colega, achamos por bem, fazer um desenho no muro da escola ridicularizando aquela profissional e a sua atuação. (Pense numa vergonha eu sinto agora ao falar sobre isso!).

 Lembro-me bem da caricatura que fiz usando folhas de plantas da própria escola, com balõezinhos com a palavra sexo. Ai , ai, ai... como pude?

          Que vergonha!!

          Na manha seguinte ao feito, fomos chamadas pela direção da escola para assumirmos o vandalismo e corrigirmos nosso erro. Lembro-me como se fosse hoje do castigo...lavar lodo o muro da escola onde continham as “obras de artes”.

Mas do que me lembro mais, é da cara de decepção dos meus pais quando souberam aquele mal feito, isso não dá para esquecer! Essa ficou marcado para sempre na minha memória. Até hoje lembro do quanto me doeu.

O mais engraçado nessa história toda é que o universo realmente nos apresenta meios de corrigirmos nossas atitudes, basta saber que sexualidade é hoje um dos temas que mais me identifico em tratar. Estudo e gosto muito de estudar sobre esse assunto. Tomei pra mim a importância desse conhecimento e da sua propagação como ferramenta de prevenção e cuidado, especialmente para que meninas como eu não tenham que passar pelos constrangimentos que passei por pura ignorância.

E a minha colega, aquela que participou desse “crime” comigo. Se tornou uma das maiores educadoras que já tive oportunidade de conhecer, um exemplo de profissional.

A lição que se tira é que, há sempre uma oportunidade de corrigir um erro. Que não existe ninguém politicamente correto o tempo todo. E que de vez em quando a gente desliza nos conceitos. Mas uma coisa é certa, esse episodio manchou minha reputação para sempre. Eu poderia facilmente ter ficado sem essa!

 

Izangela Feitosa


Comentários

  1. Nossa rir muito🤣 mas quando a gente é mais nova fazendo coisas sem pensar tanto, porém que nos geram muito aprendizado.

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