O AMOR VALE A PENA


         Li esses dias que o isolamento social tem feito muitos casais decidirem por se separar. De fato, a condição de convivência antes acordada ao pouco tempo de convívio, nos trouxe agora nessa nova ordem organizacional um modelo difícil de nos relacionarmos com os outros e com nós mesmos. De certa forma estamos nos permitindo, mesmo que sem querer, nos apropriarmos do nosso autoconhecimento; tarefa difícil, dolorosa e necessária.

O isolamento social, nos apresentou pessoas na profundidade daquilo que só conhecíamos superficialmente, mesmo partilhando dessa vivência por longos anos. As mascaras da nossa real intimidade nunca estiveram tão expostas. Medos, ansiedades, carências, abstinências, dificuldades, responsabilidades domesticas, laser, intimidade total. (Precisamos de tempo para isso tudo).

Acontece que não estamos preparados para sermos segregados de nossa liberdade. Em situações normais, irritar-se, fecham-se as portas, fica-se emburrado, mas no dia seguinte, você toma um banho, veste uma roupa, faz planos e sai para trabalhar. Lá relaciona-se com um outro mundo, diferente do ambiente familiar, que nesse momento ocupou todos os espaços, sobrecarregando o que somos e o que não queremos ser.

Em uma das matérias sensacionalistas dizia o seguinte: Como acreditar no amor se casais como Thiaguinho e Fernanda Sousa, Winderson Nunes e Luiza Sonza não estão mais juntos?

 É simples. Amor não é a obrigação de viver com alguém em qualquer situação. O amor está para além dos compromissos culturais que conhecemos. Ele deve viver e sobreviver da felicidade comum, onde os envolvidos se sintam partes fundamentais das suas histórias e por essas também sintam a importância de assim o fazer. Não é a separação de corpos, ou um acordo desfeito que desfaz o amor. Ele é maior, muito maior! Maior do que dividir uma cama, do que dividir as contas, do que ter filhos, do que pensar individualmente no que se pode ser.

Em contrapartida também li um post de Thais Araújo, onde ela expunha uma belíssima foto de seus pais e contava ali um pequeno relato a respeito desse amor. Os pais de Thais são divorciados há 30 anos, e nunca viraram inimigos, sobreviveram talvez a situações tão complexas como as que enfrentamos agora, mas souberam preservar em suas vidas, o amor e a admiração um pelo outro. Isso é o que importa.

Ela dizia que por conta da pandemia, ela e sua irmã, havia feito uma proposta para que os pais passassem essa temporada de isolamento juntos, uma vez que os dois residiam sozinhos. Foi então que a mãe de Thais foi buscar o pai, para ficar na casa dela o tempo que for necessário, um cuidando do outro. Isso é amor.

Existem formas de amor que o mundo ainda não compreendeu. Somos uma civilização que associa o amor a pratica sexual e ainda condena essa associação. Como se não pudéssemos sentir além do que é fálico, carnal, invasivo. O amor é o mistério mais simples que existe, ele não tem pré-requisitos, acontece de forma natural e perdura por tempo indeterminado.  Ele não requer explicações, formulas, ou modelos. Está onde quase ninguém consegue ver.

 O amor constrói pontes, elos fortes, capazes de sobreviver ao tempo, idade, aparência, dinheiro... Eu classifico o respeito a forma mais linda do amor. É quando se aceita, se escuta, se entende, se convence, de que tudo ainda pode ser tão bom separados quanto juntos.

É tão importante saber dá um limite a si. Não deixar apodrecer o que se tem de bom. Entender que quando a coisa começa a desandar o mais importante é ser honesto e pensar: Eu quero ser feliz ou exijo isso de outros?!

Nada é tão grande e bonito quanto o amor. O problema é que nós apenas o subentendemos. Nós não sabemos amar! Nos apoiamos em sentimentos que ao passar do tempo se torna uma forma aprisionada, doentia da essência do que deveria ser. Nos apossando do outro, impedimos de viver o amor como se deve,  nos perdendo, e aprisionado, cada um com um conceito confuso de bem querer que nem de longe é amor.

Quantas vezes você soube dizer o que precisava ser dito? Quantas vezes soube elogiar? Percebeu o quanto era importante um abraço, se fazer abrigo? O amor não precisa de muito, mas precisa de coragem, de autenticidade, de espaço pra brotar. Precisa de um olhar melhor. Precisa ser aprendido e também ensinado.

 Precisa ser agora!! Não pode esperar pra depois. A energia gerada de ligações amorosas que a vida por ventura nos oferece, deve ser celebrada, defendida, aproveitada, exercida, o tempo que ela tiver que ficar. Juntos ou separados. Essa não passa! O amor não morre! Ele pode até mudar de lugar, encontrar novos espaços, um novo jeito de aparecer, não exigir tantos regalos, não condicionar a desejos carnais, mas sempre vai sobreviver aonde cresceu com respeito. Esse é o propósito!

 Não adianta nada viver com alguém que já não olha mais no mesmo horizonte, onde seu caminho se modificou. As mãos apartadas ainda serão marcas de segurança e afeto um para o outro. Num telefona, numa mensagem, na certeza do apoio ao que você sonhou. Na educação dos filhos. Na felicidade de saber que o outro está feliz, com ou sem você.

 Os corpos separados ainda manterão conectados as mentes que sempre tiveram uma certeza: Esse amor valeu a pena!

 

Izangela Feitosa


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