MULHERES REAIS


Houve um tempo em que uma mulher pensar em sexo era feio, falar então ... um absurdo. Pois o prazer estava destinado apenas ao sexo masculino. Essa é até hoje uma das lutas feminista mais importante que se tem notícia, pois o domínio do próprio corpo, assim como o desejo foram pontos cruciais nessa formação de novas mulheres.

Desde do inicio do mundo, a partir das histórias de que a mulher foi criada como parte de um homem, que se fez a ideia da limitação e submissão do feminino, ao homem foi lhes dado a altivez do dominante e a mulher a condição de dominada. Essa forma de entender os gêneros, construídas e desenvolvidas para serem continuadas culturalmente por quase todas as civilizações a quem se tem conhecimento, trouxe a nós mulheres muitas correntes que nos aprisionam até hoje, especialmente ao contexto da sexualidade, da escolha, da liberdade sexual.

O fato de termos como representação feminina a figura da mulher que foi criada para a procriação, sem opção para tal; a companheira servil que não abandona “seu dono”, em nenhuma situação; aquela que é capaz de lutar incansavelmente por seu casamento, mesmo sabendo que não foi o que ela escolheu, vivendo de maus tratos e ainda assim agradecendo por ter um homem ao seu lado, pois sua vida, sua reputação, dependem dessa condição.

Uma mulher solteira, dona da sua vida, que cria seus filhos sozinha, que se desdobra em tantos empregos pra pagar as contas, que anseia por carinho, que necessita de sexo, que se relaciona homossexualmente, é vista como uma aberração social, vitima de todos os preconceitos, principalmente se ela for além disso tudo, negra e periférica. São tantos estigmas que é impossível romantizar a história de vida de qualquer uma dessa milhares de mulheres que estão por aí espalhadas por esse Brasil caótico que vivemos.

Há tempos que percebo em meu ciclo de amizade próximo, a descoberta do sexo por essas mulheres de uma maneira muita mais natural, hoje em dia fala-se de sexo naturalmente nas rodas de AMIGAS. Diferente das razoes que os homens usam para falar de nós, o sexo tratado por mulheres ganhou uma pauta de debate mais afetuosa, porem visceral. A gente diz do que gosta, expões nossas questões, partilha experiências, sem ficar muito ligada na quantidade, no tamanho, nas formas, mas na qualidade do que a prática pode nos trazer. Acho que nós mulheres desejamos o sexo como parte afetiva de uma relação que não necessariamente até ligada ao amor, mas que promove em nós um pouco de liberdade, de vida, de escolhas. Isso é muito importante nos dias atuais.

Deixamos de ser as escolhidas, e passamos a ter então o papel de escolher, com quem, onde, e como se relacionarmos sexualmente. Experimentamos a opção de ser dona dos nossos corpos, de ser ou não mãe, de termos ou não um relacionamento. Isso é liberdade real.

Quantas de nós casamos cedo, inexperientes, com o primeiro homem que conhecemos sexualmente, engravidamos, nos tornamos obrigação conjugal e deixamos de nos olharmos como mulheres?

Quantas meninas ainda estão reproduzindo esse mesmo roteiro catastrófico de ignorância, por causa da falta de educação sexual?

Nós mulheres somos educadas a entender o sexo diferente dos homens. Para nós o amor e o sexo precisam andar em conjunto. A menina só deve ter sua primeira relação sexual, quando encontrar o homem ideal, o príncipe perfeito, que irá suprir suas faltas financeiras, segurança, e que acima de tudo assuma um compromisso para sempre de casamento indissolúvel. Assim desde de crianças somos atacadas por essa ilusão. Lembro de ouvir minha mãe dizer: ‘Só se case pra viver igual ou melhor do que você vive solteira!’ Como se apenas o fator financeiro fosse a pedra fundamental. (Hoje, eu sei bem que não é!).

Indiscutivelmente relacionamento não pode está embasado apenas no lado financeiro, nem em lado algum. Ele só funciona em harmonia com todos os setores da vida.

Mas para os meninos o sexo nasce de uma forma natural, muito natural. Desde bem pequenos quando eles descobrem o pênis, já expressam sem pudor a sua relação com o sexo, e dai para frente são incentivados culturalmente ao conceito de macho que independente da sua opção precisa se mostrar forte viril. Eles agarram as coleguinhas do colégio, as primas, as meninas de sua idade, ou não... sem que elas gostem. Mas para os pais isso é o que se deve esperar de um menino, que desde cedo é incentivado a pratica do assedio pelos próprios pais. Quando na adolescência, eles são cobrados a experimentar o ato mesmo que contra sua vontade. É preciso fazer aquele menino virar um HOMEM. Ele precisa “COMER” alguém.

Distante do que ele mesmo pode desejar nunca se associa a prática sexual masculina a afetividade, muito pelo contrário, a fácil perceber discursos inclusive das mães, que homem tem que “PEGAR” e não se apegar. Que homem de verdade tem muitas mulheres, que se apaixonar muito cedo é jogar fora toda sua vida. Que ele precisa mesmo é curtir bem muito e quando tiver bem maduro encontrará uma mulher jovem, de preferência virgem, com quem se casará para que ela o sirva de boa esposa e boa mãe para os seus filhos.

Percebam a diferença de educação sexual entre meninos e meninas. Enquanto as mulheres sonham com o amor, os homens sonham com sexo desenfreadamente.  Até a chegada da velhice, o homem ainda leva vantagem na questão sexual, ele troca de mulher por que a sua já não lhe serve mais, enquanto a mulher na velhice é descartada por não poder mais ser “útil sexualmente”.

Isso porque sexo para eles é poder. O ápice da cadeia alimentar. Uma mulher que não pode mais ter filhos, perdeu seu prazo de validade no sexo. Obsoleta, substituível, descartável...

Mas ela ainda sente. Sente tesão, tem suas vontades, talvez agora liberta das amarras dos olhares masculinos impositivos de regras patriarcais e machistas, ela possa enfim desenvolver sua sexualidade de forma livre, finalmente.

Cheguei à conclusão de que mulheres que viveram essas condições de submissão sexual, quando liberta aprendem muito sobre elas, mesmo que caladas. Elas sabem viver como ninguém todas essas questões, e muitas vezes nem precisam de homens para vivenciarem. Sexo pra elas está no que elas podem sentir, para além do prazer fálico, penetrável. Se gostam, ligaram o foda-se! Aprenderam a ser antes de tudo mulheres reais. Autônomas de seus próprios sentidos. Ricas de seus desejos, e conscientes de seus corpos. Sexo para elas é parte de um todo que se formou ao longo dos anos e encontrou um jeito bom de renascer.

Mulheres sensuais na voz, no andar, no batom vermelho, no jeito de olhar... nas suas histórias, nas suas vivencias, nas suas essências. Mulheres REAIS.

 

Izangela Feitosa


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