Primeiro Amor
Primeiro Amor
Há alguns dias assistindo a uma
série de tv com minha filha escutei uma música na trilha sonora que fez viajar
no tempo. É engraçado como algumas memórias da nossa infância ou adolescência passam
tanto tempo guardadas em lugares pouco visitados, e como é bom poder fazer
essas viagens de vez em quando.
A música dizia assim:
“Se temos bastante tempo, pra
que perder a cabeça agora? Eu preciso me conhecer pra me dar sem receio...
Brincar com amor tão puro, é por o presente a frente do futuro, quero te
conhecer pra me abrir sem receio.”
Quando esses versos me tocaram,
fui transportada imediatamente a um sentimento de amor puro, genuíno , aquele
primeiro amor da descoberta, da dúvida, de todas as incertezas, mas também das
possibilidades, afinal de conta se não me engano tinha apenas 12 anos, e tudo
aquilo fazia parte de alguém que ainda nem sabia existir.
É estranho ter consciência desse
sentimento agora depois de mais de 30 anos, o que naquele momento foi mistério,
hoje é muito claro dentro de mim. A gente vive o que precisa viver, de um jeito
que não se pode encontrar respostas, em tempos presentes, porque é aí que está
a graça da vida, o mistério de continuar a viver nessa busca incessante de amor.
Hoje eu já sei onde ele está,
mas posso dizer que foi graças a esse sentimento primeiro que me tornei o que
sou, por que por mais doloroso que possa ser o primeiro amor não correspondido
ele te ensina a perceber que somos capazes de amar.
Pois é, como vocês podem notar
não foi um amor correspondido, muito pelo contrário ele me fez sofrer horrores!
O que é até engraçado agora, pois depois disso vivi histórias de amores bem
mais complicados, e pude provar finalmente do amor real, da ágape, talvez pra
dividir com vocês essa experiente tão linda.
Pois bem, depois que fui
envolvida pelas lembranças da música, e visitado um passado remoto de primeiro
amor não correspondido, me veio uma vontade enorme de falar com aquele cara...É
aquele mesmo, que me fez chorar na escola; Que me fazia ouvir o radio esperando
por um recadinho de amor; Que dançávamos lambada nas festas; Que me ensinou
sobre campeonato brasileiro em figurinhas; Que me levou pra assistir partidas
de voleibol; Que quase tocamos fogo na cozinha da mãe dele fazendo batata frita;(
Essa história é ótima! )
Que me fez sentir pela primeira vez um
calafrio na espinha quando nos beijamos. Porque nos beijamos, algumas vezes
sim, mas nunca fomos namorados.
Eu precisava dizer a ele,
talvez pela primeira vez o quanto ele foi importante na minha vida, embora eu
não tivesse noção disso naquela época. Assim o fiz.
Mandei-lhe uma mensagem
contando o que havia sentido, e todo aquele sentimento de volta, teria me
aflorado uma vontade enorme de contar-lhe sobre ele.
O mais bonito é que estivemos
separados por tantos anos, por enumeras razões que agora não fazem o menor sentido,
mas nunca cultivamos ressentimentos. Estivemos em nossas histórias vivendo o
que deveríamos ter vivido até esse ponto de reencontro despretensioso.
Eu pensei várias vezes antes
de enviar a mensagem, pois poderia ser mal interpretada, depois de tanto tempo.
Mas quer saber, não temos mais tempo pra protocolos de prisão. A maturidade faz
isso com a gente. Faz a gente ligar o foda-se e deixar que a verdade faça sua
parte, independente do que o outro entenda, é bom expor sentimentos reais,
especialmente nos dias de hoje. Além do mais, a intensão não tinha maldade, e
que bom que o fiz.
Tivemos uma conversa linda, cheia
de respeito. Relembramos momentos, colocamos pra fora sentimentos mais apurados
sobre nós, e sobre o que vivemos. Passamos por casamentos difíceis, filhos,
altos e baixos, mas seguimos firmes, sem perder a doçura, a vontade de viver. E
que bom que estamos vivos, para podermos nos reavaliarmos, evoluirmos e
construirmos novos capítulos de nossas histórias. De tudo sabemos que fica o
amor fraterno, a amizade construída que não se perdeu nos nossos próprios atos
de deixarmos pra lá. O tempo nos separou, nos levou por lugares distintos, mas
soube nos unir numa simples música.
Nossa conversa foi leve, agradável,
despretensiosa e muito honesta.
Oro por ele; sofri quando ele
sofreu. Torço pelo seu sucesso e mesmo distante desejo toda felicidade do mundo
para ele e para toda sua família, a qual mantenho um vínculo de afeto
maravilhoso por todos esses anos. Somos parte de uma história nossa que não
terminou. Temos muito a construir, porque a vida é linda, e toda semente de
amor plantada não morre. Ele vai encontrar um terreno certo pra florescer, seja
como for!
O primeiro amor é magico, é
sedutor, planta na gente a ideia de dias felizes com quem amamos para toda a vida,
e por procurarmos essa felicidade romantizada e fantasiosa nos faz sofrer
tanto. Ele precisa existir, por que abre portas para outros mais sólidos e mais
reais. Tem sua importância e significado na vida de cada um.
Mas amor é viver! Vivemos todos
os dias novas oportunidades de amarmos. Essa história de amar apenas uma vez
não faz o menos sentido. Amamos constantemente e de varias formas. Com o passar
do tempo aprendemos onde ele está, e é lá que devemos morar.
A essa experiência eu
agradeço, porque eu detestaria passar nessa vida sem sentir todos os sabores do
amor. Até os que me machucaram eu devo a minha gratidão, pois foram essas as
formas de me moldar, que me fizeram entender do que sou feita, para todo o
sempre.
Gratidão!
Izangela Feitosa
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