EVA

Mulheres ... como defini-las sem o encantamento tão próprio do que é ser mulher. Diria que ser mulher é está sempre em uma luta constante entre o viver e o poder ser. Somos parte de um todo sempre deixado de lado, porque é indiscutível o conceito praticado de que o mundo é feito por homens e por eles gerido e organizado. Somos sempre o segundo plano, desde da criação do mundo até os dias de hoje.


Respaldados por histórias, entre elas as bíblicas, que retratam a mulher em faces diferente e ao mesmo tempo bem conveniente aos conceitos masculinos, podemos afirmar que a mulher é uma criação coadjuvante no mundo. Mas será que foi assim que Deus nos fez? Eu tenho uma interpretação própria a respeito da primeira mulher, a responsável pelo pecado e por todas as lastimas relacionadas ao feminino. É aquela mesmo... popularmente conhecida por EVA, nossa raiz de mulher.


Quando Deus pensou em criar o mundo, Ele já sabia que era um criador fantástico, pois já havia testado sua obra na criação, de anjos, arcanjos e algumas outras coisas que datam bem antes da existência do Jardim do Edém. Nelas, haviam talvez elementos suficiente para que Deus pudesse se aprimorar cada vez mais. E foi assim que o fez. Cada coisa que vinha sendo criada Ele acreditava ser algo mais perfeito. (Quanto a isso até mesmo a ciência concorda, pois é sabido que os seres são uma espécie de evolução aprimorada a partir da primeira célula viva). Deus foi criando caprichosamente cada elemento da vida, colocando ali seu amor e dedicação pacientemente. 


Criou então a terra, colocou nela, água, luz, dividiu os dias, organizou a matéria e definiu seus espaços. Criou os animais, bichos de todas as espécies, pensando em seus lugares e designando a cada um, uma função de acordo com seu lugar de origem. Tudo se encaixava naturalmente. Uma cadeia de vida com ciclo definido de começo, meio e fim, E ele se agradou do que viu. Gostou do que a terra era capaz de fazer, deu a ela o poder da criação, capaz de reproduzir, gostou tanto que também deu aos animais esse mesmo poder criador, e então cheio de alegria ele pensou em coroar sua criação com a perfeição, o que ele chamou de homem. Um ser gerado da terra, fonte de toda a vida até então, capaz de ser reconhecido por semelhança com o próprio Deus, perfeito e único. Deus se sentiu realizado! Havia ele concluído a sua maior obra. Mas o homem dotado da consciência, função essa que o difere dos outros animais, achou que lhes faltava algo. Não se conteve em ter a terra, tudo que te melhor pudesse existir, e Deus, um pai capaz de um amor tão grande, que colocou nele tudo que havia de melhor e especial, um espelho do próprio criador. 


Todos nós sabemos que o homem que tem Deus, tem tudo! Nada lhes falta, jamais faltaria, mas a mente inteligente do homem ansiou por algo mais, e ele o pediu. Pediu por alguém capaz de suprir a solidão e vontade de não ser mais único; pediu uma companhia que pudesse ser um elo ainda mais forte com ele e o pai, alguém que o entendesse e que soubesse também amar como o pai o amava. Foi então que Deus pensou na mulher. 
Talvez ele até já tivesse pensado ... mas deixou que Adão a pedisse. Mesmo sabendo que Adão não teria necessidade alguma em tê-la por perto, Ele acolheu um pedido de filho.

Mas Deus já não poderia mais criar algo a partir da terra, pois já haviam por lá uma criatura muito mais perfeita. Então a partir da criação mais perfeita, o homem, Deus fez a mulher. Um ser dotado e diferenças fisiológicas, biológicas e afetivas. Colocou naquela criação tudo de mais apurado, que havia colocado no homem, exageradamente em amor e cuidado, ele teceu cada parte daquele novo ser criado a partir do que já havia sido perfeito. A ela deu algo mais que especial, a capacidade de continuar sua criação, de reproduzir por si a sua imagem e semelhança outros novos seres. A perfeição da perfeição... EVA.


Depois de EVA Deus descansou... deu-se por satisfeito. Final de contas ele já não precisaria criar nada. Deu a nós mulheres como em EVA a formula perfeita da perpetuação de tudo aquilo que só havia NELE, inclusive o seu amor. Celebrou então dando aos dois tudo...inclusive a confiança de cuidar da própria criação.


Essa é a minha interpretação da criação de EVA, a primeira mulher do mundo. Não a pecadora promotora de todo mal, causadora das desavenças ou a rebelde que desobedeceu a seu pai. 


Eva é injustiçada, como todas as mulheres são até hoje. Ocupando um lugar sempre de causa e não de efeito. De culpadas e não de defesa. Mulheres... EVAS. Todas num mesmo contexto de exclusão, onde nada deve ser nosso. Ocupando os lugares que não escolhemos está, por imposição desde o primeiro homem nos ordenou. Colhendo as culpas daquilo que não somos, do que não promovemos, do que não podemos mudar. EVAS transgressoras do saber amar.


EVAS segregadas de direitos, morrendo nas mãos de ADÃOs que desde do inicio do mundo resolveram não assumir suas culpas e nos condenar a criminalização. Sujas de sangue, mas repletas de um amor tão grande. Capazes de perdoar, e escrever a paz, pois não somos a guerra; apenas lutamos para sair delas. Escondidas e excluídas, mas participantes ativas na vida de todos os seres humanos.


EVAS...mulheres como eu e você!



Izangela Feitosa