O SOL
Há dias em que me deparo com a
mais profunda das dores, enfrentar os fantasmas da alma, nos fazem mergulhar
profundamente no mais íntimo de nós.
Pensamentos nos traem em
insistentes e constantes tramas arquitetadas de artifícios, que só a mente faz.
Nesses dias é quase impossível encontrar o sol ...
A luz é companheira
indesejada. Abrir os olhos e enxergar o mundo é um exercício dolorido. Não
encontro cor, perco-me no frio que a solidão trás e deixo-me ali sozinha sentir
apenas o tempo passar. E ele não passa...
Quando eu era criança, eu
tinha medo de tudo. De cair, de nadar, de correr, de apanhar, de sofrer, de
viver... Não sei quantas vezes eu passei mal por alguma coisa que perturbava
minha mente. Eu era calada, não entendia o sentido de sofrer. Talvez por ser
tão sensível. Talvez porque meus pais não tivessem o tempo ou dedicação pra
prestar atenção, não sei... Não fui uma criança difícil, muito pelo contrário,
em disputas com os irmãos eu sempre ficava para a última opção, e ouvia sempre assim:
“Ela não liga, se conforma com tudo! O que receber tá bom! “
De fato, fui assim mesmo, não
sabia lutar pelo que queria. Talvez porque não soubesse o que querer.
A verdade é que fui criando
medos, barreira, monstros, e os alimentando diariamente, e sem perceber deixe-os
crescer em mim, tomando proporções inconscientes. Mas o maior de todos, sempre
foi a solidão.
Embora eu sempre tivesse sido
uma pessoa seletiva, de poucas amizades, sabia muito bem cuidar delas. Porque
pra mim sempre foram importantes. E são até hoje. Eu passei a vida me
escondendo daquilo que mais temia, e acredite quanto mais eu fugi, mais próxima
ela estava.
Essa é hoje minha companheira
mais constante, presente, vivente. Agora já não posso mais fugir. Dessa vez eu
resolvi enfrentá-la; encarando-a com a mais honesta das fragilidades. Assumindo.
Não me entreguei a ela.
Houve dias, em que a
dor partiu-me. Eram golpes certeiros fincados em meu peito. Eu apenas fiz uma
oração, para que aquela dor me matasse logo. Estar diante, olhar nos olhos do
seu maior inimigo, requer, sobretudo coragem. E doeu! Como dói!
Mas aprendi a lidar com ela.
Essa companhia foi virando uma suave oportunidade de revirar minha alma. De
acalmar minhas dores. E o que antes doía, agora é fortaleza. Mesmo ainda
sozinha, não me sinto tão só. Descobri que até a tristeza tem sua alegria.
Encontrar-se com si mesma, é viajem primorosa. E ganhei uma nova amiga. Uma
parte de mim que só veio a luz, depois que enfrentei as trevas. Uma parte tão
linda, que não se esconde em sombras. Porque ela sabe brilhar até quando o sol
não aparece, pois descobriu que é aqui... Dentro de mim, que ele nasce todas as
manhãs.
Izangela Feitosa
Perfeito!! Cada dia se superando e enchendo nossos olhos com esses textos maravilhosos.
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