BARBIE
Quando eu era criança, minha
felicidade era possuir uma boneca. Sabe aquelas Barbies? Que faziam qualquer
menina da minha época sonhar com elas?
Pois bem, ela era um ideal de mulher, que
inconscientemente eu queria ser. Linda, sempre na moda, maquiada, nunca envelhecia,
passava a impressão de ser muito bem resolvida. Aqueles cabelos, e o corpo
então?! Perfeita em tudo. O que era aquilo? E mesmo quando a Barbie se
apresentava em suas várias versões profissionais, ele era sempre a protagonista
bem-sucedida.
Ela me fazia sonhar com
aquilo, em ter uma profissão, em não depender dos homens, não esperar por um
príncipe encantado. A Barbie sempre teve seu lugar de destaque. E ao contrário
das outras bonecas não se fazia de coitada, ela era altiva, dominava, a número
um ... Quem não gostaria de ser assim? Pois bem, eu gostaria.
Lembro que chorava horrores
pra poder brincar com elas, nunca pude possuir uma. Quando ia passear na casa
das minhas primas ficava horas me humilhando pra passar alguns minutos vivendo
aquela fantasia. A boneca tinha um significado mágico, me transportava pra uma
felicidade ilusória de que eu podia ser tudo que quisesse.
Quando finalmente cresci me
perdi totalmente do meu ideal construído na infância regado ao sonho dourado
das Barbeis. Deixei de lado a inquietude da adolescência pra encarrar de frente
uma relação adulta comigo e com o mundo, sem saber nem por onde começar.
A felicidade que eu havia almejado
encontrou outros caminhos bem diferentes daqueles de brincadeira de criança. Não
morava mais naquele ideal da Barbie e nem no ideal da mulher, dona de casa,
esposa e submissa, que me tornei. Meu conto de fadas falhou! Me dei conta de
que ser a dona da coisa toda era quase impossível pra alguém como eu, que
aceitava migalhas de uma vida que não era ficção, mas que escondia muito da realidade.
Eu precisava
de equilíbrio. Algo que pudesse me fazer entender onde a menina que eu havia
sido, tinha se perdido pra dá espaço pra aquela mulher sem graça, quase uma
verdadeira boneca. Não restou uma fagulha daquele brilho cor de rosa. Porque a
vida é assim, nos convencem desde cedo que precisamos ser perfeitas e nos
moldam a só aceitar, até que a mulher se torna a boneca, manipulada socialmente
pra agradar se desagradando. Perdendo aos poucos suas próprias formas, sua própria
vontade, sua própria história. E assim resumida a nada, a brincadeira perde a
graça. Apática e sem vida ela não quer mais brincar.
Izangela Feitosa
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