Sou Feminista


Sou Feminista.

Outro dia fui questionada sobre ser feminista.
Logo me veia a cabeça uma serie de argumentos suficientemente capazes de responder aquela pergunta tão logica. Mas respondi simplesmente que sim.
É uma resposta simples, mas cabe tantos questionamentos, que me fizeram lembrar também de um outro episódio bem interessante.
Estava eu conversando sobre um assunto bem machista (que por sinal não faltam); quando me deparei a avaliar o quanto a mulher foi vista ao longo do tempo como objeto de exposição, cultuada como um troféu que aos olhos do mundo era incapaz de pensar. Escondida em tristeza, num vazio capaz de nunca deixar revelar-se quem de verdade eram. Mulheres celebradas em cartazes, capas de revistas, páginas e páginas de exposição da sua sexualidade compradas a preços de luxuria e revendidos ao prazer momentâneo de quem pagasse mais. Sempre foi assim. Sem nenhum valor (por cara que se pagasse).
Há um diferencial que separa as mulheres negras, miscigenadas, índias, e tantas outras que tiveram na sua vida, a não opção da prostituição como via de regra para a sobrevivência.
 As revistas, os cartazes de borracharia, que expunham aquele pedaço de carne ao deleite total da massa masculina, as escolhidas, como forma de fetiches, criados para a venda, que traziam toda a questão do preconceito, do estupro, da exploração, mercadorias de baixo custo. Do tipo que não se pode levar para casa, apresentar para os pais, nem se casar. Puta!! Mercado de gente, vendendo corpo ao prazer de uns...homens.
Por outro lado, as mulheres fascinadas pelo estrelato, aproveitando seus 15 minutos de fama, também tinham sua nudez negociada para capas de revistas, celebradas e bem pagas, em sua grande maioria, mulheres desenhadas para o mercado próprio do consumo. Revistas desse tipo foram marco na vida sexual de muita gente, com suas capas de celeridades, cheias de caras e bocas, peitos e bundas recheados de silicone, depilações e poses...em peles brancas...tudo para agradar o publico masculino. E embora em seu conteúdo cultural a revista trouxesse matérias de relevância para o momento vivente, acredito que poucos homens tenham comprado a revista para ler as matérias.
Uma vez ou outra apareciam por lá ensaios caracterizados de “representação folclórica” de mulheres brasileiras, índias, negras e até uma trans, que à época causou reboliço por pura curiosidade.
O preconceito sempre esteve ali na capa como matéria principal. E perdurou por décadas. Não sei bem ao certo porque esse tipo de comercialização perdeu espaço, talvez por causa da exposição da internet, que trouxe o real para dentro de todos os espaços familiares. Talvez porque a pornografia tenha tomado outro rumo. Mas eu prefiro acreditar que o feminismo tem a ver com isso. Talvez porque nós mulheres tenhamos percebido que somos mais do que um corpo cheio de curvas. Que não precisamos nos curvar para isso tudo. Talvez porque o feminismo tenha de alguma maneira ensinado as novas mulheres a serem elas, sensuais ou não, na medida certa de ser.
O feminismo fez isso comigo. Me ensinou a questionar, a criticar, a quebrar padrões. A encontrar meu lugar ao sol. Me ensinou a romper com o discurso de agradar aos outros. E é por isso que o feminismo é tão odiado, porque mulheres são odiadas! Somos projetadas dentro de uma sociedade que nos impede de sermos simplesmente mulheres normais, com celulites, estrias, culotes, seios flácidos, barriguinha. Mas com uma arma sexual tão maravilhosa que é a autenticidade.
Sim, sou feminista! E pretendo ser cada dia mais. Trabalhar militância não é apenas expor uma opinião, é vive-la. Isso requer coragem, para enfrentar o mundo machista que ainda olha para você com cara de desdém e te pergunta por que ser feminista.

Izângela Feitosa


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