Aquele Encontro





    Marquei um encontro com uma menina de 17 anos pra ouvi-la sobre sua vida, sobre os sonhos, planos para o futuro...logo ali.

    Ela me contou que há alguns dias havia estado com os amigos, celebrando a nova idade e que havia escrito num diário os planos para os próximos... 10 ... 20 anos. A juventude parecia ser algo tão distante, havia se encontrado na adolescência já tarde, e a criança que vivia dentro nela teimava em não querer sair. Mas reconheceu que tinha de crescer, não tinha outra opção, mesmo contra sua vontade.

      Perguntei como ela se via diante de tantas possibilidades, afinal o mundo se abria a ela com os olhos da beleza e da mocidade que lhes trazem de bônus as incertezas, e também coragem.

       Ela sorriu timidamente e disse, que não haviam muitos planos, mas que gostava de escrever, queria ser jornalista, quem sabe? Cultivava essa paixão que aprendera do pai, e embora seus pensamentos ingênuos bolassem demais, não percebesse a maldade, sabia que ela existia. Era uma vida difícil, talvez nem tivesse condições.

       Disse também que tinha alguns amigos e que se davam bem, alguns a protegiam, outros só lhes desejam o bem, mas que queria mais, queria ir mais além. Conhecer o mundo, morar sozinha, independência. Cultivava uma certa simpatia por histórias de amor, mas não sonhava com casamento, nem com a maternidade.

      Ouvia sua mãe dizer que casamento bom era uma formatura, que marido bom é um emprego que lhe sustentasse sem depender de homem. Essas coisas que se houve dos corações partidos, dominados pela razão, de quem já tentou de tudo e não consegue explicação para poli amores.

      Nossa conversa foi fluindo, e havia muita intimidade, diante daquela moça me deparei com tantas verdades. Ela tinha fé, falava de Deus; Dizia ter crescido muito com as oportunidades que vida lhe deu. Estava disposta a enfrentar as dúvidas para chegar ao final daquela jornada chamada vida.

     Nesse instante de frente ao espelho a percebi ali, tantas coisas escondidas. Demorei 25 anos pra me encontrar com ela. Pra me reencontrar.

     Quanto tempo perdido?? Quanto tempo vivido!

    Quantos sonhos rasgados, moldados, remoldados, tomados de assalto no tempo que tomou outros rumos, mas que encontrou seu jeito de fazer as coisas. Tem que hoje encontrou um espaço no relógio pra marcar esse encontro.

    Revelador!

    Re vê-La dor!

    Meu íntimo sofreu diante de uma menina que cresceu, mas não deixou de lutar. Que reconhece na face às marcas, no corpo, na alma que tempo lhe fez, as nuances distantes dos sonhos que a realidade da vida lhe fez.

     Seus pés no chão agora encontraram solo certo pra brotar. E brotam de ideias, de amores, suas dores, de encontros, sabores, vida! E ela escreve.

     Me pedi desculpas e depois celebrei a oportunidade imensa de ser quem eu sou, imperfeita, mas consciente de que nada é em vão. Não tenho arrependimentos. Nada foi em vão!

     Meus passos profundos, desvendaram hoje um pedaço do meu coração que já havia esquecido quem eu havia sido ... ou quem eu ainda sou.



Izangela Feitosa

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