Anti idade


Anti-idade

Depois de passar horas no salão de beleza, relutando uma proposta contra os cabelos brancos, que de uns tempos pra cá insistem em fazer morada nessa minha jovem cabeça, comecei a questionar a ação maravilhosa da vida.
Diante do espelho por tanto tempo, fica quase impossível não perceber todas as marcas e imperfeições naquela imagem exposta em confronto com você mesmo. As vezes assusta. Porque não estamos sempre diante da nossa própria imagem, as vezes é só uma projeção do que imaginamos ser.
Eu particularmente detesto salão de beleza. Não pelas práticas, nem pelas pessoas, mas esse é um ambiente que não condiz muito com o que sou de verdade...Porque sou prática! Por mim, shampoo no cabelo, condicionador são tudo de que eu preciso pra ter um cabelo legal. Eu realmente não gosto de me dedicar ao conceito de beleza que te aprisiona a um modelo nada convencional de si mesmo, mas tenho que assumir é preciso encarrar o salão de vez em quando.
Depois que deixei meu cabelo voltar ao seu descontrole original, indomável, senti um alívio imenso de não mais ser escrava dos processos químicos que me roubavam a identidade. Me libertei do formol e da forma de criar em mim fôrmas de expressão condicionadas ao que escolhem por nós.
Desde pequena, atravessei vários processos de imagens, e acredito que essa seja a condução normal de todas as pessoas, umas mais, outras nem tanto. Mas de fato eu nasci com cabelos negros, grossos, pesados e muito volumosos, e como não havíamos todo esse aparato tecnológico de cuidados, eu na verdade nunca me propus a cuidar dele como deveria. Era mais como uma luta desonesta de mim com a minha própria essência. Até que um dia resolvi mudar e como se não bastassem todas as mudanças internas que haviam se passado dentro em mim, eu quis permitir a experimentar o novo, e fugi do convencional. Até que o tempo me pegou de surpresa.
Assumir meus primeiros cabelos brancos tem uma significância para além da resposta ao espelho. É aceitar a ação do tempo nos processos de lutas anti-idade.
Anti-idade... A gente escuta tanto isso hoje em dia, e nem sabe direito o que realmente significa. Soa até como um duelo contra a morte. Pois se só paramos a idade dessa maneira, como podemos ser usualmente anti-idade?
De novo volto ao meu rosto no espelho e fico lá repuxando e encontrando defeitos.
-Quem sabe eu pudesse puxar um pouco aqui, subir outro tanto ali, preenchimentos, ácidos, plásticos... Há, porém, uma infinidade de produtos e serviços anti-idade, e se eu pudesse... Ahh!! Acho que faria.
Mas por hora, a única coisa que pude me oferecer foi colocar em mim um pouco mais de luz! Deixando as imperfeições do tempo guardadas em segredos só pra mim.
Por que a gente expõe a imagem que deseja ser vista, e essa se torna real para todas as outras pessoas, que no final não se importam com o quanto de nós está mesmo envelhecido. Isso é natural.
Há um ditado que diz que mulher não fica velha, fica loira!
Não sei bem a sua veracidade, mas por via das dúvidas, assinei meu atestado de velhice com uma conduta simples anti-idade, e sai do salão um tanto quanto iluminada.

Izângela Feitosa


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