Asas ou Âncora

Asas ou Âncora

No silêncio da solitude que esses dias me abraça, aproveitando também para fazer um pouco mais de carinho na alma, pois a Quaresma é tempo de renúncia, faço reflexões de momentos de vida.
Não é segredo pra ninguém o quanto eu gosto de refletir a vida, especialmente a minha. Talvez como forma de recolher pedaços que já não vividos, levados pelo tempo passado, eu posso encontrar agora respostas para as muitas perguntas que minha alma ansiava.
Ouvi varias vezes essa frase: - Você não entende o pra que hoje, mas um dia saberá. Tudo tem uma razão pra celebrar.
Não sei de fato se esse é um mantra tão usual, mas a verdade é que agora percebo sim algumas respostas. Enquanto formulo novas perguntas, nessa maravilhosa aventura de viver.
Foi difícil pra eu perceber quem eu estava me tornando. Só depois de alguns anos, eu tenho essa noção. E não... eu não me santifiquei, de maneira alguma. Ando longe de achar tal coisa, mas me permito todo dia a confrontar o meu pior. Só que agora eu percebo bem todas as camadas horríveis que eu usava com tanto orgulho, com tanta beleza. Beleza!?
Quanta ingenuidade!!
Eu pautei minha vida em coisas que pra mim hoje não fazem sentido algum. Que bom! Que bom ter os olhos abertos.
Tive vergonha de admitir quando descobri toda arrogância que carregava em mim, toda a soberba, toda falta de humanidade. Sim, porque já fui isso. Orgulhosa, numa capa de coitada. Fazendo da minha falsa miséria uma forma confortável de ser digna de pena. (E eu era mesmo, mas por outros motivos que eu me vangloriava.)
Vivendo numa zona de conforto, atreladas às minhas vontades não alcançadas as escolhas dos outros. Uma vítima... de mim mesma! Pela falta de amor próprio, pela falta de atitude, pela prepotência.Jogando a culpa da minha falta de respeito em quem não me respeitava, quando na verdade era eu que não sabia o que era isso.
Com facilidade eu julgava, fazia mal juízo, e sentenciava aos meus motivos, condenando tudo aquilo que fugisse do meu padrão de entendimento.
Eu queria...ter! Está numa condição social de visão era a glória pra mim, mesmo que para isso eu pagasse o preço que paguei.
Eu queria tudo! Dinheiro, posição, a perfeição familiar. Tudo bem se eu fosse omissa, compassiva, avarenta, irritante, ignorante, presunçosa, preguiçosa. Eu tinha uma meta! Ter!
E eu tive.
Foi quando eu me tornei o melhor que eu podia, que encontrei o meu pior. A queda ainda não era o suficiente, porque eu ainda estava amarrada, apegada, doente por uma vida que não me trazia alegria, mas que aos olhos do mundo parecia perfeita. Eu não podia abandonar aquilo, deixar pra trás uma vida inteira de dedicação. Eram coisas demais! Coisas!!
Tive que perder todas as minhas certezas pra abrir meu coração à Deus.
Foi Ele, como um pai generoso, mesmo sabendo que nada daquilo me faria feliz, que permitiu que eu provasse, degustasse do prazer delicioso das coisas que não edificam. Uma felicidade alicerçada no vento, frágil, volátil, e fugaz.
Ele deixou que eu sentisse o gosto do desgosto, e assim me fez entender que o que ele quer pra mim tem sabor diferente, nada se compara.
As coisas não são como a gente escolhe, mas a gente escolhe como passar pelas coisas. E eu escolhi viver o que ele me permitisse.
A dor tem um poder transformador, ela pode te dar asas ou ser tua âncora. Eu escolhi voar! Deixei, soltei a mão do que não me fazia feliz.
Sabe, quando hoje me deparo com a imagem de Jesus na cruz, eu o vejo com olhos diferente. Vejo com os olhos do amor que ele plantou em mim.
Ele não escolheu passar por todo sofrimento, ele apenas aceitou. Acreditou que mesmo contra a sua vontade havia após toda dor uma paga maravilhosa, que o levaria a glória de Deus. A morte não seria o fim, mas apenas o canal de passagem para a ressurreição, essa que ele nos convida todos os dias.
Eu tive que morrer! Mato em mim cada dia um pouco mais de tudo aquilo que o mundo me oferece. Que Cruz pesada! Que calvário difícil! Mas eu sei que quando eu tiver encontrado o meu corpo sepultado, então eu estarei despida de todas as minhas cóleras, e o meu espírito encontrará a ressurreição.
A maravilhosa vida eterna!

Izangela Feitosa

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