A Inveja







A inveja



Se tem uma coisa que eu não consigo entender é a inveja. Acredito que assim como eu, hoje em dia passamos boa parte do tempo vivendo um pouco da vida dos outros. Vidas presentes em status, fotos, timeline, stories, e tantas outras formas de mostrar nem sempre tão reais , mas um pouco do que é vivido e exibido por aí.

Eu confesso não ser muito dada a tais exposições, as vezes até me sinto implicada a fazer tais demonstrações de vidas perfeitas, mas me reservo ao fato de expor apenas coisas que na minha própria concepção servirão de parâmetro de racionalidade de pensamentos. Futilidades realmente não me convencem da sua necessidade. Mas também sei que a futilidade é algo relativo, o que pra mim pode não ter importância par outros tem um peso crucial.

Claro que acho linda uma história de amor, casamentos, roupas bonitas, festas, declarações, tantas coisas que apreciamos no mundo virtual. Mas fico sempre me preocupando até que ponto tudo aquilo é real no íntimo das pessoas. Como essa influência pode desencadear sentimentos. Vivemos um tempo em que todos querem um pouco de nós, sem querer um minuto apenas sentir o que sentimos, passar pelo que passamos. A caminhada até o suposto sucesso é sempre carregada de muitos tropeços, as vezes quedas bem estruturais, capazes de danificar vigas importantes em nossas construções. Mas a ideia que temos é que há mesmo um conceito de “sorte” que seleciona alguns e outros não. Será mesmo ¿

Ninguém percebe as tuas dores até que se proponha a passar por elas. Ninguém deseja tuas lutas, porque é mais fácil desejar teu brilho, tudo isso que te rodeia de tão íntimo construído a quebras e lascas da própria carne. Ninguém deseja carregar o peso que tu carregas. Desejam descobrir apenas o que de tão valioso existe dentro de ti, e é exatamente aí que mora a essência de ser quem tu és. Cada um tem sua própria história. Capa de um livro escrito por próprio punho esconde toda a beleza de ser único.

Nossa capa nem sempre conta com clareza a verdadeira história. Arrisco dizer que existem livros lindos de vida, com capas bem desgastadas pelas dores da vida. E na contramão dessa beleza escondida está a falsa sensação de perfeito que atrai a inveja.

O desejo de ser exatamente o que tu és, como se fosse possível assumir a vida que não lhe pertence.

Sentimento de um poder destrutivo tão grande quando a arrogância.  Esse desejo de ter o lugar que não é seu.

A inveja devasta a alma de quem a sente, corrói de sentimentos doentios o que poderia ter sido bom.

Se mostrar ao mundo com delicadeza, expondo aos quatro cantos tua verdade traz um peso enorme de atrair pra si os olhos da maldade. Escondido muitas vezes nas mãos que te abraçam, no desprezo disfarçado de afeto que confunde aqueles que se sentem mel, de abelhas oportunistas e sedentas de se deliciarem com o doce alheio.

Tenho um certo receio de pessoas expostas demais. Principalmente das que escondem bem os venenos que fabricam.

Tenho receio de pessoas maquiadas demais, arrumaras demais, corretas demais, virtuosas demais e cheias de coisas pequenas.

Tenho preferido me esconder na minha pequenez e não expor tanto a minha imagem. Ela não é tudo que sou. Embora seja a representação real de mim, estou além do que essa casca pode mostrar.

Os olhos bons sempre olharão pelos olhos do coração e nesses lugares a inveja não tem vez.

Já abri mão de muita coisa que acreditava ser real e no fim descobri ser pura poeira, espalhada em nada. Tive que abrir meus olhos internos, pra olhar mais pra mim, deixar que as máscaras da inveja que eu convivi tanto tempo, pudesse cair. Tive que assumir as minhas invejas.

E assim despida do que é imaginário, me vesti dos sonhos que a realidade dura me trouxe e exponho agora apenas a quem sinto. No momento certo, em locais exatos, nas cores que eu identifico como verdade. Nem sempre as melhores, mas com certeza dentro da imensidão de dúvidas eu prefiro ver exatamente como são.

A inveja não tem poder de habitar aonde quem rege é o coração.





Izangela Feitosa

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