SOBRE BORBOLETAS E JARDIM
SOBRE BORBOLETAS E JARDIM
Bem, acredito que quase todo mundo alguma vez já tenho escutado falar
sobre essa história. Que conta basicamente um bom ensinamento sobre o que
queremos e como o buscamos.
Essa história eu ouço sempre, várias vezes. Porque eu admito, tenho sido
ansiosa em algumas coisas. E essa ansiedade pautada num querer, meio sem
querer, leva-me a algumas vezes a sofrer sem necessidade.
A história diz que, quando corremos atrás das borboletas, elas
instintivamente se vão. Claro. Natural. Tudo aquilo que nos assusta, nos faz
fugir.
Mas quando cultivamos as flores do jardim, as borboletas, sem que se
perceba, pousam ali. E assim ficam por agrado. Usufruindo do cheiro doce,
dançando ao som do vento que embala aquele jardim tão lindo. Mal querem ir
embora. Muitas delas escolhem aquele lugar como lar e assim procriam e recomeçam
a dança da vida.
Trazendo essa historinha para a minha reflexão, eu penso em várias
coisas. Que em alguns momentos somos borboletas, em outros o jardim e em outros
as lagartas.
Esses dias tenho pensado muito no jardim que estou cultivando em mim.
Quantas flores ele já tem? Será que ao menos eu já o adubei? Ou será que ainda
só tenho pedras e nenhuma planta? Será que ali já estou eu, lagarta? Ainda
escondida em meu casulo, com medo do que pode haver ali fora. Cuidando de uma
casca que me protege não só do desconhecido, mas também de toda beleza de ser
borboleta.
Sair desse casulo pode ser tão doloroso quanto incrível. Mas é preciso
coragem. Coragem para enfrentar as pedras, os insetos, a chuva, o sol e tudo
mais que venha a ter naquele jardim. Jardim esse que eu também posso ser. Cheio
de plantas, mas também cheio de ervas daninhas. Em tudo há o bem e o mal. Cabe
a cada um, alimentar o que deseja.
Minhas reflexões, tão minhas; leva-me a investigar bem a fundo o que eu
estou fazendo para colaborar ou não com esse florescer. Algumas vezes a gente
se prende tanto as práticas costumeiras que não nos percebemos praticando atos
que vão contra o nosso crescimento. Achando nós que fazemos tudo certo, ao
nosso modo; cometemos falhas e ficamos sempre repetindo os mesmos erros. Olhar
pra dentro é um exercício muito difícil. O dedo na própria ferida machuca muito
mais. Se permitir a essa dor é sofrer. Sofrer com muita vontade de mudar. E eu
quero mudar.
Quando me percebi praticando contra mim, exatamente o contrário do que
eu desejo mudar. Eu senti vergonha!
Como eu posso esperar que as borboletas viessem ao meu jardim? Meu
jardim está cheio de coisas que não me favorecem. E por isso as borboletas
continuam a fugir. Meu jardim ainda está em construção. As sementes estão sendo
plantadas. E demora um tempo para florescer.
Esse tempo é tão necessário quanto à água que preciso regar todos os
dias. Há uma razão para as coisas serem trabalhadas e não imediatas. É que
quando a gente investe, tempo, dedicação e amor, nas coisas que cultivamos,
certamente estamos alicerçando com força o que temos de mais valioso, e lá na
frente à colheita será linda.
Mas aí eu volto à ansiedade que dizia no começo desse texto. A gente
quer agora. Do nosso jeito e sem cultivar. E foi aí que eu senti vergonha.
Porque Deus tem trabalhado tão carinhosamente no meu jardim, com tamanha calma,
colocando as melhores sementes, tirando tudo que eu havia plantado de ruim;
dando o seu melhor em tudo, e só me pedindo paciência. Porque eu sei que Ele
não mente. Eu sinto a sua verdade. Se alguma vez esse cultivo desanda; a culpa
é minha e não da bondade e misericórdia que Ele tem por mim.
Eu entendi. Eu preciso parar de correr das borboletas e deixar que Deus
me ensine a cuidar do meu jardim. Aceitando seus ensinamentos e assim no tempo
certo assistir ao bailar das muitas borboletas que virão, sem medo, sem duvidar
e aprendendo a ser feliz e grata, sempre.
Izângela Feitosa
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