Carência
CARÊNCIA
Outro dia li essa frase, o que me intrigou profundamente.
“Se você acha que a dependência de drogas é destrutiva, tente então
depender de uma pessoa”.
Então avaliando o que li várias e várias vezes, me vieram outros
questionamentos. O que seria essa dependência? Bem a primeira resposta que me
dei, foi essa que talvez você também esteja pensando. Depender de alguém talvez
financeiramente? Talvez socialmente, quimicamente... Sei lá!! Mas lhes asseguro
com toda firmeza que não há dependência mais doentia do que a afetiva. Ela te
destrói de uma forma tão desumana que não há como medir todo estrago. É algo
que transcende todos os limites da honra, da dignidade, da decência, da moral.
Tira aquilo que você tem de melhor. Faz você se perder de quem você é.
Humilhar-se, torna-se nada! Te consome de uma forma tão avassaladora que sem
perceber te torna exatamente aquilo que condenaria. A dependência afetiva é
causa de doenças como a depressão, pode levar facilmente ao suicídio ou ao
homicídio, alegada várias vezes como forma de amor... de um amor doente.
Depender de alguém maltrata, aprisiona, destrói.
Diante dessas constatações, talvez bem conclusivas para tantos, eu
comecei a olhar pra mim e me perceber dependente de outra forma de afeto. Não
mais de outras pessoas. Mas daquele que você sente, ou quer sentir e não
consegue ser correspondido. Comecei a perceber que tantas vezes, eu, me deparei
com situações tão bacanas e que essa incansável vontade dominadora de querer
ter alguém pra mim me fez exatamente o contrário, afastar as pessoas. E eu
então doente das minhas dores, culpabilizei a forma não correspondida das
coisas que eu, e somente eu, sonhei viver.
A gente demora um tempo pra prestar atenção nas coisas que estão tão
impregnadas em nós. Essa carência “patológica” que cultivo, me fez perder
amigos, pessoas e oportunidades de viver momentos maravilhosos, baseados numa
expectativa que em nenhum momento o outro tem obrigação de sentir. Porque essa
falta, essa dor é minha e só minha. Difícil... Mas totalmente compreensível.
Quem gosta de se relacionar com alguém onde você provavelmente será o TUDO
dela? Onde a todo instante você tem que dar atenção e estar disponível, ser
amoroso, carinhoso, etc. Não há quem aguente viver nessa prisão disfarçada de
carinho. Isso é injusto até com quem de alguma forma se propõe a viver. Essa é
uma dependência de mim mesma. Uma dependência que eu preciso tratar sozinha.
Nesse caminho que me fez tantas e tantas eu pedi pra seguir. Todas as vezes que
eu pedi para que aquela sensação de fragilidade excessiva de necessitar de
outro, para que de alguma forma eu me sentisse completa, me deixava mais e mais
dependente dessa dor. Como eu pude não perceber que a todo o momento, era eu
quem criava estratégias para afastar o que eu mais desejava. Prender, vigiar, mesmo
que de forma velada, subjetiva. Ficar horas e horas se prendendo a viver na
dependência da atenção de quem até poderia te dar atenção, mas não a que você
deseja. Ninguém é obrigado! Ninguém quer viver nessa dependência e depois ser
condenado ao que ela pode assegurar.
Então depois dessa cacetada que eu me dei. Propus-me a mudar. Mudar de
verdade. Sem meios termos. Sem me boicotar. Permitindo que dessa vez eu pare de
surtar com as pessoas. Não sendo uma dependente patológica. Aprendendo
calmamente que as mudanças devem partir de dentro, e a partir daí assistir ao
renascer desse novo conceito que me fara livre de verdade.
Izângela Feitosa
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